Você provavelmente já ouviu falar que o melhor momento para comprar um guarda-chuva é em dias de sol. Apesar de simples, essa frase mostra um ensinamento valioso a respeito da dinâmica entre demanda e oferta: a melhor hora para você adquirir um objeto é quando existe pouco interesse por ele.
No mercado financeiro vale a mesma máxima: sempre que há pouco interesse por determinado ativo, a tendência é que seu preço recue. No entanto, quando se trata de investimentos, é muito difícil ir contra a manada e fazer o papel do “investidor contrário”, comprando algo que ninguém se interessa e vendendo aquilo que está na moda.
Sobre este assunto, Renan Zanella, analista da Convex Research, destaca o livro “The Art of Contrary Thinking”, ou A Arte do Pensamento Contrário, em tradução para o português. Na obra, o autor Humphrey Neil escreve: “it pace to be contrary”, em outras palavras, vale a pena ser um investidor contrário, conseguir ir contra a maioria e, dessa forma, obter um retorno superior.
“É baseado nesse entendimento que nós utilizamos na nossa análise os indicadores de sentimento para entender qual é o sentimento do mercado com determinado ativo. Se é um sentimento de otimismo ou se é um sentimento de pessimismo”, afirma Zanella.
O analista aponta que os indicadores de sentimento não derivam da compilação de dados econômicos, mas sim de dados que mostram qual é o sentimento do mercado em relação a determinado ativo.
Existem dois tipos de indicadores de sentimentos:
- Os de Sondagem: são pesquisas feitas com os investidores. Um grupo, uma instituição vai chegar para você e outros investidores perguntando qual é o seu sentimento em relação ao mercado de ações, em relação à economia. Você vai dar a sua opinião
- Os extraídos do mercado: invés de se perguntar para os investidores o que eles acham, simplesmente se extrai aquilo que eles estão fazendo.
O exemplo da dinâmica do dólar
Richard Rytenband, economista e CEO da Convex Research, costuma enfatizar que o preço da tela só tem sentido quando acompanhado da análise da dinâmica dos fundamentos.
“Parece simples, mas este princípio de investimento sinaliza que tipo de janela de exposição você está lidando, se para montagem, aumento, redução ou zeragem de determinado ativo”, afirma.
Como exemplo, ele cita três armadilhas em relação ao Dólar x Real em que a maioria das pessoas acabou se guiando apenas pelo preço da tela e deixou passar a dinâmica dos fundamentos. “No final, essas pessoas pagaram caro por isso”, aponta o economista.
No início do ano 2000, próximo ao estouro da bolha da internet, o dólar caiu em relação ao real e muitos acreditavam que os problemas nos Estados Unidos se limitariam ao setor de tecnologia e o Brasil e o Real seria uma ótima alternativa. No entanto, nos meses seguintes houve uma alta significativa do dólar, fazendo com que os investidores que haviam apostado no real amargassem prejuízos.
“Em 2002, em pleno ano eleitoral foi a mesma coisa. Até abril o consenso era que o processo eleitoral seria tranquilo e os problemas no exterior (escândalos contábeis) não teriam grandes impactos por aqui”, pontua Rytenband.
Ledo engano. Entre o final de abril e o dia 31 de outubro, a moeda norte-americana registou uma forte valorização de 45%, penalizando mais uma vez aqueles que estavam “comprados” em real diante do dólar.
Rytenband aponta que em 2008 a armadilha foi ainda maior, já que o dólar x real só precificou os efeitos da crise do subprime na metade do ano.
“Na época, a narrativa era que os emergentes, com destaque para o Brasil, se descolariam de vez dos Estados Unidos e a chuva de dólares nem tinha começado, afinal o país estava próximo do grau de investimento (o que efetivamente ocorreu em abril e maio)”, diz o economista.
Por isso, ele aconselha que os investidores não se guiem apenas pelo preço da tela e façam sempre “a lição de casa”. “Estude em conjunto a dinâmica dos fundamentos, caso contrário você se tornará um candidato forte a ‘passageiro da agonia’. O mercado não perdoa quem ignora seus sinais”, conclui o CEO da Convex.