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“É preciso dolarizar a carteira, não apenas em momentos de crise”, explicam especialistas

No começo da semana passada, o dólar à vista atingiu a sua menor cotação frente ao real desde junho de 2022, negociado a R$ 4,8741. Nos últimos dias, a moeda norte-americana teve alguma valorização, mas segue abaixo do nível de R$ 5.

Um cenário como esse chama atenção dos investidores que ainda não possuem suas carteiras dolarizadas, já que a baixa da moeda pode significar uma boa janela de oportunidade para começar a ter aplicações na moeda mais forte do sistema financeiro mundial.

Apesar de baixas como essa serem consideradas boas janelas de oportunidade para fazer aportes, especialistas ressaltam que a dolarização é importante não apenas no momento atual, com maiores instabilidades e incertezas econômicas, mas é uma estratégia que deve ser mantida de forma consistente.

A força do dólar

Em conversa com o Money Crunch, Léo Martins, especialista em vendas de imóveis na Flórida, explicou sobre a “The Dollar Smile Theory“, criada por Stephen Jen, estrategista de câmbio do banco de investimentos Morgan Stanley.

“Essa teoria demonstra que em momentos de crise global, o dólar se torna forte, porque acaba sendo um refúgio. E em momentos de muita abundância global, a moeda também ganha força porque os Estados Unidos tem uma economia que cresce mais quando as outras estão crescendo”, afirmou Martins.

O sorriso, conforme a teoria, se forma justamente por ter dois pontos fortes e apenas um momento fraco em termos de dinâmica do dólar na economia global, que é quando a economia do país acaba enfraquecendo.

A teoria de Jen foi proposta inicialmente em 2007, quando a crise no setor imobiliário americano começava a emergir.

Diversificação política e geográfica

Caio Braz, sócio da Urca Capital Partners, disse que, como o dólar é a moeda de negociação de boa parte do comércio internacional e preço base de todas as commodities, a tendência é que economias que não têm histórico de manutenção de valor da moeda frente ao dólar – como a brasileira, tenham mais inflação do que os EUA. Por isso é necessário ter investimentos na moeda para proteger seu poder de compra futuro.

“Não é porque tem o Lula, é porque tem um risco político. Você também deixa de depender de apenas uma economia, ou seja, quando você tem o dinheiro no Brasil, você depende da economia brasileira, mas quando você coloca uma parte do seu portfólio em dólar, você passa a depender de uma outra economia, então diversifica o seu risco da economia local”, destacou Leo Martins, da The Florida Lounge.

Esse aspecto também foi ressaltado por Tharcisio S. Santos, Sócio e Co-CIO da Vita Investimentos. Santos explicou ao Money Crunch que o Brasil é um país emergente que costuma ter ciclos econômicos mais voláteis do que o resto do mundo. “Como o investidor já tem os imóveis, emprego, e toda sua vida no Brasil, faz sentido ele ter uma parte dos investimentos fora para justamente se proteger desse risco do país”, afirma.

Na visão da Convex Research, casa de análises independente que traz análises e recomendações para investidores brasileiros investirem no exterior, a segurança trazida pela dolarização é um dos aspectos mais importantes para o investidor, além da oportunidade de ter retornos interessantes, como os que estão sendo oferecidos por títulos de renda fixa do Tesouro Americano.

“Apesar do investidor brasileiro ainda estar se acostumando com a ideia de diversificação nos mercados globais, essa já é a realidade da grande maioria dos investidores de outros países, que entendem a importância da preservação de patrimônio”, afirma a Convex.

Possibilidade de investir em diferentes ativos

Caio Braz, da Urca, ressalta que hoje em dia os investidores têm acesso a todas as classes de ativos, desde títulos do tesouro norte-americano, passando por títulos de empresas, fundos não listados, e investimentos diretos em setores como o imobiliário, ações e REITs. “Basta selecionar uma plataforma que ofereça esses produtos ou um gestor da confiança deles aqui no Brasil que possa montar a carteira e/ou a estrutura de investimento’, diz Braz.

Mesmo com diferentes ativos ao dispor do investidor, Leo Martins, CEO da The Florida Lounge, acredita que, atualmente, o ideal no processo de dolarização é “tentar tirar um pouco de volatilidade da mesa”.

“Por isso eu escolhi estar no setor imobiliário. Eu acredito que a dolarização faz parte de um projeto ou de um investimento de mais de longo prazo, onde você tá protegendo o seu capital. Isso normalmente é uma ação mais duradoura, não acontece no dia seguinte”.

O investimento em imóveis, segundo Martins, acaba se beneficiando de três linhas de receita: o dividendo do imóvel, que é o próprio aluguel, a valorização do bem e a possibilidade de financiamento sem nenhum indexador de dívida – o que deixa, em sua visão, a alavancagem muito positiva, com um fator de risco muito pequeno e a rentabilidade extremamente significante.

No caso da renda fixa, Tharcisio Santos destacou que, atualmente, é possível aplicar nos Estados Unidos em títulos com retornos de 5%, 6% ao ano, que historicamente em dólares é um bom retorno.

“Historicamente, a renda fixa não oferecia retornos interessantes, mas agora esse cenário mudou por conta da volta da inflação. A gente prefere fazer uma alocação mais focada em renda fixa de curto prazo, dado a incerteza toda com a inflação, que ainda está muito alta, rodando em mais ou menos 4,5%, sendo que a meta do FED é de 2%”.

Para complementar, Renan Diego, Sócio Diretor e Head Trainer do FAD Treinamento e Consultoria, destaca as atuais vantagens de se investir nos ETFs (Exchange Traded Funds) – fundos de investimento que captam recursos para aplicar em carteiras que seguem algum índice como referência -, e os REITS (Real Estate Investment Trust), empresas que são criadas para focar no mercado de imóveis.

Em relação à tributação dos investimentos, a Convex Research explica:

1) o investidor brasileiro possui um limite de isenção para vendas de até R$ 35mil por mês. Assim, independente do seu lucro, se você vender abaixo desse valor no mês vigente, não há necessidade de recolher impostos;

2) os ganhos de capital das aplicações financeiras são tributados com alíquota de 15% (ganhos acima de R$ 5MM possuem alíquotas maiores – verifique a tabela). A variação cambial compõe a base de cálculo desse imposto, portanto o cálculo deve ser feito considerando o ganho em reais e o imposto deve ser recolhido via DARF.

3) os dividendos e alugueis são tributados de acordo com a tabela progressiva de IR da Pessoa Física.

“Nos EUA, os dividendos são tributados na fonte com a alíquota de 30%. O Brasil possui um acordo com os EUA chamado FACTA – Fair and Accurate Credit Transactions Act, para evitar a bitributação, portanto o imposto sobre os dividendos que já foram pagos nos EUA serão contabilizados no imposto de renda do brasileiro e o contribuinte será isento de ter que arcar com a alíquota de 27,5% no Brasil”, complementa a casa de análise.

Expectativas para a economia americana

Na visão de Caio Braz, da Urca Capital Partners, o cenário macro internacional tem operado em uma única nota: a taxa básica de juros nos EUA e, mais recentemente, o teto da dívida do tesouro americano.

“A expectativa é que com o arrefecimento da inflação que já está ocorrendo e uma leve piora do mercado de trabalho, antes do final do ano a taxa de juros deverá baixar, contribuindo para valorização dos ativos de renda variável, em especial os de mercado imobiliário que estão extremamente descontados. Apenas uma recessão de fato poderia atrasar essa recuperação, o que abriria uma nova oportunidade de compra”, destacou.

Sobre a inflação e os juros, Tharcisio Santos afirmou que o mercado começou a precificar uma queda das taxas, inclusive neste ano, mas existe a chance de isso não acontecer por a inflação estar muito alta.

“É um momento de ter cautela, porque se o Federal Reserve estiver certo e manter o juro mais alto por mais tempo, a curva de juros mais longa vai sofrer, as taxas vão subir, e quem tiver aplicações vai sofrer na marcação a mercado. E também a renda variável, que usa na precificação das ações justamente a curva de juros, e se os juros sobem, o mercado de ações também cai. É um momento interessante de olhar e é preciso calma para não tomar grandes posições de risco agora.”, opinou Santos.

Entre em contato com a redação Money Crunch: [email protected]

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