O Ibovespa chegou a acumular ganhos de mais de 15% no ano até o começo de abril, se descolando do S&P500 em um movimento que trouxe alguma esperança para os investidores mais desavisados que estavam comprados no mercado acionário.
No entanto, nos últimos 30 dias o índice devolveu praticamente todo ganho do ano e mostrou que o movimento não passou de um “voo de galinha” – de curta duração e sem consistência.
Algumas ações, que tinham acumulado uma alta ainda mais significante, também tiveram uma queda expressiva. Foi o caso da Vale (VALE3), que chegou s subir mais de 34% entre janeiro e março.
Desde que atingiu a máxima do ano, o papel já caiu 24% e devolveu quase todos os ganhos de 2022.
Para analistas consultados pelo Money Crunch, essa mudança de sinal da bolsa já era esperada e a tendência é que a queda continue. Isso porque o mercado acionário brasileiro passa há algum tempo pela etapa final de transição de um grande ciclo de alta para iniciar o ciclo de baixa, segundo Richard Rytenband, economista e CEO da Convex Research.
“A atual configuração tem um pouco similaridade com o início dos anos 70 (ameaça inflacionária), anos 2000 (era do dinheiro barato e exageros em empresas tech), 2008 (disfuncionalidades no sistema financeiro mundial) e vulnerabilidades em países emergentes como em meados dos anos 90”, disse o economista, em um relatório divulgado a assinantes da Convex.
O cenário macroeconômico também continua bastante desafiador, com baixo crescimento e inflação elevada – a chamada estagflação.
Enquanto a expectativa é de crescimento do PIB em torno de 0,65% em 2022 – de acordo com o últimos Boletim Focus, do Banco Central – a inflação segue na casa de dois dígitos mesmo com a alta dos juros.
Alerta foi dado
Em fevereiro deste ano, quando a bolsa brasileira tinha subido mais de 10% em pouco mais de um mês, Rytenband alertava para que os investidores tivessem cuidado com as armadilhas do mercado e evitassem cair no famoso “canto da sereia”.
Quando o mercado está subindo, a decisão de entrar normalmente é tomada com ajuda do efeito manada: o investidor percebe que muitas pessoas estão comprando, os preços estão subindo e ele não quer ficar de fora desse movimento.
Ao agir desta maneira, a pessoa se esquece dos fundamentos e pensa apenas na oscilação diária do preço dos ativos. Ele deixa de avaliar todos os riscos envolvidos e negligencia as fragilidades atuais do mercado – podendo amargar sérios prejuízos.