Uma cinebiografia é sempre um desafio interessante, uma vez que a tarefa é condensar uma passagem da vida, ou até mesmo ela por completo, e encaixá-la em uma estrutura dramática de uma ou duas horas.
Agora, o que você faria se a vida da personalidade escolhida já parecesse, naturalmente, com um roteiro clássico de ascensão e queda? Seguindo o ditado “a vida imita a arte”, Eike – Tudo ou Nada nos conta uma história de ego, poder e corrupção que já conhecemos, mas agora de perto.
Dirigido por Andradina Azevedo e Dida Andrade, e baseado no livro de Malu Gaspar, o longa propõe-se a mostrar a trajetória do ex-bilionário brasileiro Eike Batista. Ele é conhecido pela criação da empresa OGX, que contava com o objetivo explorar os campos de petróleo que, teoricamente, existiam aos montes no país.
Temos o enfoque principal no período de idealização da petrolífera até a sua queda, com brevíssimos trechos do filme focando na infância, adolescência e outras passagens da vida do empresário.
Sobre o enredo
O longa-metragem tem diversos pontos interessantes, e um destaca-se em comparação aos outros: Nelson Freitas. Por mais que contemos com outros pontos de vista narrativos, este é um filme do protagonista.
Seguimos Eike durante a maior parte do tempo, acompanhando suas conquistas, expectativas, perspectivas e falhas. Isto nos dá uma noção humana do processo que levou à construção e, mais tarde, demolição do posto de 7º homem mais rico do mundo.
Não apenas o trabalho extremamente orgânico, caloroso e dedicado de Freitas, mas também a própria condução do roteiro quando o assunto é o desenvolvimento dos personagens foram extremamente acertados.
Algumas “armadilhas narrativas”
Por outro lado, o filme possui armadilhas narrativas que, muitas vezes, o cinema pode cair quando tem como claro objetivo atingir o grande público. Em uma das sequências, ocorre uma viagem lúdica à momentos passados da vida de Eike, passando por seu primeiro e desastroso casamento.
Neste momento, caímos em uma sequência de cenas teatrais, um tanto infantis, em uma proposta literalmente circense, que destoa abruptamente do clima e da linha de raciocínio proposta até o momento. Se o objetivo aqui era aproveitar desta dissonância de estilos justamente para tornar ainda mais clara a abordagem lúdica da cena, o resultado demonstra, novamente, que não devemos confundir o gosto popular com uma ingenuidade crítica.
Ao mesmo tempo que não conte com nada de inventivo ou especial, a direção cumpre seu papel de contar a história de Eike Batista de forma interessante e relativamente consistente, sem esconder suas contradições, falhas e polêmicas.
As referências dos realizadores de filmes como O Lobo de Wall Street e A Grande Aposta, que fizeram extremo sucesso ao abordar acontecimentos do mundo empresarial norte-americano, são explícitas. Nota-se a alusão à clássica cena em POV do Lobo de Wall Street, onde a câmera caminha em direção a um corredor de funcionários aplaudindo os feitos de seu patrão.
Apesar dos problemas citados, o longa é certeiro e cativante, mostrando-se sempre interessado em manter a atenção do público, mesmo às custas de uma narrativa um tanto didática.
Eike – Tudo ou Nada está disponível, na atual data, no catálogo da Netflix.
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