Nesta terça-feira (28), a varejista de moda Amaro pediu à Justiça de São Paulo a homologação de seu pedido de Recuperação Extrajudicial, processo em que a empresa faz acordo com seus credores e define um plano de reestruturação.
Atualmente, a companhia soma dívidas de R$ 244,5 milhões, sendo R$ 151,8 milhões em dívidas bancárias e R$ 92,8 milhões com fornecedores.
De acordo com Max Mustrangi, sócio da consultoria Excellance-Gestão de Turnaround e Reestruturação, especializada em reestruturação de empresas, existem dois possíveis fatores que geraram o acúmulo de dívidas exacerbadas. Entre eles, a tentativa de expansão muito grande, exigindo muito capital para o investimento da própria empresa.
“Para isso, você precisa ter retorno, precisa ter venda com margem. Este setor é terrível com margem e o volume despencou também, empobrecimento de mix. Com tudo isso, o retorno sobre as vendas cai, e a condição de conseguir efetuar o pagamento futuro da dívida reduz, e aí a empresa entra pro buraco. E, evidentemente, as dívidas vão ficar”, disse Mustrangi.
O plano envolve pagamentos somente de credores quirografários, os que não possuem um direito real de garantia, e adesão de 41,63% deles.
Mustrangi explicou que os credores quirografários consistem naqueles que esperam adquirir um poder monetário no futuro, como fornecedores com cheques e duplicatas.
“Esses credores possuem em prazo de pagamento curtíssimo ou senão, à vista. Porque não vão colocar mais nada em risco. E isso piora ainda mais a situação de caixa da Amaro, que já estava ruim. É uma situação muito apertada, tem que regularizar a questão do dinheiro, ver se têm fundos de private equity por trás, e quanto de condição de injeção de capital próprio existe para ajudar. Mas, não podemos esquecer que entrar mais dinheiro não é resolução de problema algum. Isso não é atuar na causa do problema, que é a perda contínua e recorrente de rentabilidade, isso para qualquer empresa em qualquer setor”, afirmou o especialista.
Dentre os motivos para que o pedido seja concedido rapidamente, a companhia cita ações que sofre na Justiça, “que colocam em risco as atividades empresariais, em virtude da iminência de atos de constrição de patrimônio, falência e/ou despejo das lojas”.
A Amaro pede que essas ações sejam suspensas por 180 dias com a homologação do plano.
Na visão de Mustrangi, é possível esperar futuros pedidos de recuperação judicial de outras empresas do segmento.
“Temos uma Riachuelo com problema, temos potencialmente uma C&A com problema, temos diversas outras marcas com problemas financeiras e alavancagem brutais. Mas não é só varejo de moda, é de qualquer setor. Tanto que ontem tivemos o pedido de Recuperação Judicial do grupo Petrópolis. Está todo mundo com problema de alavancagem financeira excessiva e sem fluxo de caixa para conseguir fazer o pagamento da dívida”, declarou.
Sobre a Amaro
A Amaro foi criada em 2012, sendo uma das primeiras do segmento de moda a promover esse tipo de integração do comércio físico com o digital. Mas, assim como outras empresas de tecnologia brasileiras, a Amaro foi afetada pela alta taxa de juros e a piora no consumo, devido à baixa liquidez do mercado, que foi uma medida para conter o avanço da inflação no País.
A empresa adota um modelo de vendas baseado no comércio eletrônico, apesar de também ter lojas físicas no país, nas quais os consumidores podem provar as peças de roupa antes de comprá-las.
As lojas físicas têm computadores para mostrar o estoque e também para fazer às vezes dos atendentes do caixa. Ou seja, as transações podem ser feitas online.
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