Ainda este ano, a Embraer projeta sua recuperação de forma que consiga sair de uma zona crítica nos negócios, após dois anos de crise no setor mundial de aviação. E, para isso, a empresa aposta que a retomada das viagens aéreas envolverá uso maior dos jatos de menor porte.
“Esperamos produzir lucro líquido, ao final do ano. Esse é um passo importante. Nosso plano é de um grande crescimento… isso se segue à retomada dos voos domésticos, que é a função à qual nossos jatos se enquadram”
disse Francisco Gomes Neto, presidente-executivo da Embraer, em entrevista ao portal Financial Times
Atualmente, a Embraer é a maior produtora de jatos de transporte regional, que tradicionalmente tem até 120 assentos, servem a trajetos mais curtos e são mais populares na América do Norte.
No ano passado, uma alta de 45% nos preços de suas ações fez da empresa ser a de melhor desempenho no índice Bovespa, a referência do mercado brasileiro de ações.
O bom desempenho veio logo após a demissão de 2,5 mil trabalhadores durante a pandemia. Com uma campanha de melhora de eficiência e redução de dívidas, a Embraer voltou a um fluxo de caixa livre positivo.
Porém, com uma queda acentuada em suas ações este ano, a Embraer busca agora formas de expansão que consigam convencer e atrair a confiança dos investidores.
As ações da Embraer caíram em cerca de 50% até agora este ano, o que dá à empresa um valor de mercado de cerca de US$ 1,8 bilhão (R$ 8,9 bilhões). Seu presidente atribui a queda a uma mistura de frustração dos investidores quanto às projeções anunciadas pela empresa, problemas de cadeia de suprimento, e o impacto mais amplo do conflito ucraniano sobre o mercado de ações.
Gomes Neto descartou quaisquer vendas de ativos importantes ou uma cisão da empresa, declarando que “estamos abertos a outras parcerias, mas não do tipo que desmembraria a companhia ou envolveria a venda de alguma de suas partes”.
A empresa possui a meta de duplicar a receita reduzida do ano passado, para cerca de US$ 4,2 bilhões anuais até 2026.
A aposta nos jatos para reaquecer o faturamento
Apenas neste ano, a companhia entregará de 60 a 70 aviões civis, ante 48 no ano passado, e pode chegar a um total próximo das 100 unidades anuais no final do período de cinco anos, disse Gomes Neto.
Um dos pilares da estratégia da Embraer é a aeronave “E2”, de médio alcance. Capazes de transportar entre 80 e 146 passageiros, os novos modelos se enquadram mais ao mercado convencional de jatos de fuselagem estreita e, segundo a companhia, produzem menos ruído e menos emissões de dióxido de carbono por assento.
Na visão da maior parte dos executivos da empresa, uma das consequências da pandemia de Covid-19 será mudanças nos padrões do transporte aéreo. Com o crescimento menor nas viagens aéreas, menos viagens de negócios e mais pessoas se mudando para cidades pequenas, o uso dos jatos que a Embraer produz será favorecido.
Nos 10 anos até 2031, a projeção é de que sejam entregues 13 mil aviões com capacidade superior a 150 passageiros, de acordo com dados da consultoria Cirium. Para os jatos regionais de entre 85 e 150 passageiros, a categoria na qual a Embraer opera, a previsão é de apenas 3,5 mil entregas.