A Netflix divulgou seu balanço do quarto trimestre de 2021 na última semana e os números decepcionaram o mercado. A maior empresa de streaming do mundo teve um aumento de 8,3 milhões de clientes de outubro a dezembro do ano passado, o menor desde 2015 e abaixo do que era esperado.
Após a divulgação as ações da empresa enfrentaram uma forte queda na Nasdaq e as perdas dos últimos dias já ultrapassam os 23%.
Mas a verdade é que a Netflix era uma das “queridinhas” do mercado, encarada quase como unanimidade. No começo do ano, de 51 analistas que cobriam o papel, 36 recomendavam compra, 10 recomendavam “hold” (segurar a ação) e apenas 5 indicavam venda.
“O analista precisa ter muito ‘pulso’ e estar bastante seguro da sua tese para recomendar venda para uma empresa que é tão bem vista pelo mercado. É mais fácil para eles errarem quando todo mundo erra, por isso é comum que todos sigam a mesma direção”, afirma o analista Renan Zanella, da Convex Research.
Diante disso, ele afirma que é preciso tomar cuidado com o consenso. “Se você se guiar apenas pelo que os analistas estimam e seguir sempre a manada, acabará ficando para trás”, diz Zanella.
Mas afinal, o que aconteceu para que as ações tivessem uma queda tão significativa? Segundo o especialista da Convex, os resultados não foram tão ruins: o lucro líquido aumentou 12% na comparação anual e o lucro por ação ficou bem acima das estimativas.
No entanto, alguns pontos azedaram o humor do mercado em relação à companhia. “Como a Netflix é uma empresa de crescimento (growth), o mercado está muito preocupado com o que ela vai entregar no futuro. O que mais chama atenção, portanto, não é o aumento de lucro de um trimestre para o outro, mas sim as perspectivas para os próximos períodos”, explica.
Outro ponto é que as empresas de crescimento costumam ser negociadas a múltiplos mais altos, que já englobam as perspectivas futuras. “O problema é que o mercado colocou de forma implícita nos múltiplos um crescimento muito forte. Quando as empresas de growth começam a mostrar desaceleração, os múltiplos tendem a cair e o preço das ações também”.
Concorrência acirrada
O surgimento e fortalecimento de players no mercado de streaming também contribui para ligar o sinal de alerta para a Netflix.
No âmbito global, os concorrentes vêm ganhando espaço e acirrando a disputa pela preferência dos clientes em todo o mundo. A Disney, por exemplo, ganhou muita força pela exclusividade com a Marvel e lançamentos de peso previstos para o ano.
A Amazon também tem mostrado crescimento, impulsionada pela parceria com grandes estúdios de produção.
O Hulu está contratando grandes nomes para seus reality shows e o HBO Max atrai mais assinantes ao incluir filmes na plataforma dias após lançamento nos cinemas.
Isso sem contar os concorrentes locais, caso da Globoplay no Brasil. O streaming se beneficia de toda grade de programação da maior emissora do país, além de ter conteúdos exclusivos para assinantes.
Alta de juros e fim dos lockdowns
Além disso, Zanella explica que como essas empresas possuem expectativas de lucros futuros mais altas, elas também sofrem mais com o aumento da taxa de juros. “O Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) ainda não aumentou os juros, mas se olharmos os títulos de 10 anos percebemos que houve uma alta importante este ano”, diz.
Por fim, o analista da Convex destaca que a Netflix se aproveitou do fato de as pessoas precisarem ficar em casa durante a pandemia e teve um forte aumento de clientes entre 2020 e 2021.
“Agora, com essa possível estabilização da pandemia, as empresas que se beneficiaram lá no início acabam sofrendo de uma forma mais contundente”, conclui.
Seus Investimentos Precisam de Independência! Em fevereiro, a Convex abre as suas assinaturas anuais para novos membros.
Garanta sua vaga, inscreva-se na lista de espera e receba informações em primeira mão: http://assinaturas.convexresearch.com.br