As empresas varejistas passam por um momento delicado e casos de renegociação de dívidas ou recuperação judicial envolvendo companhias do setor são cada vez mais comuns no país.
Para Max Mustrangi, sócio da consultoria Excellance-Gestão de Turnaround e Reestruturação, especializada em reestruturação de empresas, quem surfou na onda do dinheiro barato e custo baixo, vendendo produto sem valor agregado e com baixíssima rentabilidade, agora sente na pele as consequências: queda de rentabilidade operacional do negócio e perda de retorno do capital.
Segundo ele, as grandes empresas, principalmente as varejistas – que entregam produtos e serviços com margens finas, sem valor agregado, sem diferenciação nenhuma – serão as próximas a ruir.
“Muitas delas já estão nesse patamar, apenas não perceberam ou preferem continuar focando nos números mais altos da planilha, mascarando a realidade. Enxergar a situação real e parar de negar o óbvio é o primeiro passo para reverter a queda do lucro líquido, aumento de despesa financeira e dívidas. Mas, enquanto os negacionistas que estão a frente destas empresas continuarem olhando apenas para o faturamento, publicando EBITDA, sem analisar o lucro real da companhia, elas só estão aumentando a corda para se enforcar, até que em breve, estarão com uma senhora jiboia enrolada no pescoço”, aponta.
Mustrangi destaca que nos últimos meses o que mais se viu foram empresas cometendo um “erro crucial e clássico”: elas seguem focadas em aumentar o volume de vendas e o faturamento, mas com perda de margem.
“Por isso a pergunta sempre precisa ser em cima do lucro real: quanto o seu capital está sendo valorizado; como você está buscando escala de faturamento, caso contrário o caminho será um só: a morte de muitas empresas, ainda em 2023. “O sistema está ruindo e os executivos esqueceram do básico: é o lucro líquido e o retorno sobre o capital investido que importa”, alerta.
Recuperação judicial e renegociações
No começo do ano, a Americanas surpreendeu o mercado ao anunciar um rombo contábil de R$ 20 bilhões, decorrente de lançamentos incorretos no balanço. A companhia entrou com pedido de recuperação judicial informando que suas dívidas ultrapassavam a marca de R$ 40 bilhões.
Algumas semanas depois, a Lojas Marisa anunciou que estava com dificuldades e precisava de um plano para renegociar suas dívidas. No começo de fevereiro, a empresa contratou a BR Partners para ajudá-la no processo de reestruturação da sua dívida, que chega a R$ 200 milhões apenas em vencimentos de curto prazo.
Na última terça-feira, foi a vez da varejista de moda Amaro entrar com pedido de recuperação judicial. A companhia soma dívidas de R$ 244,5 milhões, sendo R$ 151,8 milhões em dívidas bancárias e R$ 92,8 milhões com fornecedores.
De acordo com Mustrangi, existem dois possíveis fatores que geraram o acúmulo de dívidas exacerbadas. Entre eles, a tentativa de expansão muito grande, exigindo muito capital para o investimento da própria empresa.
“Para isso, você precisa ter retorno, precisa ter venda com margem. Este setor é terrível com margem e o volume despencou também, empobrecimento de mix. Com tudo isso, o retorno sobre as vendas cai, e a condição de conseguir efetuar o pagamento futuro da dívida reduz, e aí a empresa entra pro buraco. E, evidentemente, as dívidas vão ficar”, disse Mustrangi.
Na visão de Mustrangi, é possível esperar futuros pedidos de recuperação judicial de outras empresas do segmento.
“Temos uma Riachuelo com problema, temos potencialmente uma C&A com problema, temos diversas outras marcas com problemas financeiras e alavancagem brutais. Mas não é só varejo de moda, é de qualquer setor. Tanto que ontem tivemos o pedido de Recuperação Judicial do grupo Petrópolis. Está todo mundo com problema de alavancagem financeira excessiva e sem fluxo de caixa para conseguir fazer o pagamento da dívida”, declarou.