A desigualdade social vem crescendo cada vez mais nos últimos anos em todo o mundo, mas a aceleração tem sido ainda mais forte no Brasil.
De acordo com um relatório recente divulgado pelo banco Credit Suisse, em 2020, 1% da população mais rica do Brasil detinha o equivalente a 49,6% de toda a riqueza nacional.
Este é o pior nível de concentração de renda desde o ano 2000 no país, quando 44,2% de toda riqueza da nação estava nas mãos de 1% mais rico da população. O número diminuiu até 2010, quando chegou a 40,5%. De lá para cá, no entanto, a concentração de renda só aumentou até atingir a marca atual.
A pandemia de Covid-19, que começou nos primeiros meses do ano passado, contribuiu para o cenário que vivemos atualmente. Com a crise econômica que rapidamente se instaurou por conta da necessidade de isolamento, o governo adotou uma série de medidas de estímulos monetários, injetando liquidez na economia.
No entanto, esse tipo de atitude tem uma consequência nefasta no médio e longo prazo, provocando uma inflação de preços cada vez mais acentuada e aumentando o nível de desigualdade social.
Conceito de inflação
Para você entender como a inflação é provocada, é interessante conhecer o conceito por trás dela.
A inflação de preços é um fenômeno monetário, ou seja, ela acontece quando a oferta de moeda na economia aumenta sem que a quantidade de produtos e serviços cresça na mesma proporção.
Foi exatamente o que aconteceu com a pandemia de covid-19, quando os governos do mundo todo, incluindo o Brasil, injetaram muito dinheiro nas economias para tentar conter a crise provocada pelo avanço do vírus.
O problema é que a capacidade de produzir bens e serviços dos países permaneceu a mesma e até diminuiu, enquanto a quantidade de dinheiro em circulação aumentou consideravelmente. Essa distorção que ocasiona a inflação de preços.
Em uma palestra realizada no final da década de 1970 na Universidade de San Diego, o economista Milton Friedman (1912-2006), vencedor do Prêmio Nobel de Economia e considerado uma das maiores autoridades de todos os tempos no assunto, mostrou a relação entre a emissão de moeda e o aumento da pressão inflacionária.
Ele mostrou uma série de gráficos que relacionam a quantidade de moeda por unidade de produção com a inflação do país. Nos EUA, entre 1964 e 1976, as duas linhas no gráfico se movem praticamente juntas, sendo difícil distinguir uma da outra (como mostra a imagem abaixo). “Esta é uma série de 13 anos, mas se fosse um período de 100 anos a relação seria a mesma”, explicou.
“Eu quero deixar claro de uma vez por todas o fato de que a inflação é um fenômeno monetário. Essa proposição já foi documentada muitas vezes. Nunca na história houve uma inflação que não tenha sido acompanhada por um aumento extremamente rápido na quantidade de moeda e vou mostrar dados que comprovam isso”, disse Friedman durante o evento.
Richard Rytenband, economista e CEO da Convex Research, destaca esse tipo de arranjo não é sustentável e provoca uma série de problemas sócio-econômicos como os que estamos vivendo, causando inclusive agitações sociais. “No final, todos perdem com esse tipo de situação”, critica.