Em discurso feito nesta quinta-feira (7), o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, renunciou à liderança do Partido Conservador e, portanto, deixará o cargo de líder do governo, ficando como interino até que um novo premiê seja denominado.
Entre as causas, destaca-se o voto de desconfiança movido no parlamento há cerca de uma mês, devido às festas que o próprio primeiro-ministro realizou em Downing Street, sede do governo britânico, durante o lockdown decretado em 2020, na pandemia de covid-19.
Mais recentemente, o novo escândalo envolveu a escolha para um cargo de liderança de um parlamentar previamente acusado de assédio. O parlamentar em questão é um aliado de Boris, Chris Pincher.
Cronologia dos fatos
Em 30 de junho, o jornal britânico The Sun publicou que Pincher, então deputy chief whip da bancada do Partido Conservador no Parlamento, apalpou dois homens em um clube privado em Londres. O deputy chief whip tem como atribuição garantir que parlamentares do partido votem conforme a orientação das lideranças.
Pincher havia sido nomeado para o cargo por Boris Johnson em fevereiro deste ano. Após a publicação, de imediato negou as acusações, mas depois cedeu à pressão. Admitiu que estava “bêbado” nas situações relatadas pelas denúncias e renunciou.
No dia seguinte a publicação do The Sun, o governo britânico declarou à imprensa que Johnson não estava ciente de nenhuma alegação contra Pincher antes de sua nomeação. Um porta-voz disse que o primeiro-ministro não estava ciente de “acusações específicas” sobre o aliado do primeiro-ministro.
Porém, em 4 de julho, o mesmo porta-voz afirmou que Johnson estava ciente de “alegações que foram resolvidas ou não avançaram para a fase de reclamação” e que não foi considerado apropriado interromper a nomeação de Pincher devido a “alegações sem fundamento”.
Uma reportagem da BBC confirmou que Johnson havia sido informado sobre o “comportamento inapropriado” de Pincher enquanto trabalhava no Ministério das Relações Exteriores entre 2019 e 2020. Esta queixa levou a um processo disciplinar que confirmou que o comportamento inadequado ocorreu.
Johnson confirmou a informação de seu gabinete e declarou que lamentava “amargamente” não ter agido com base no que sabia.
A postura do governo sobre o caso resultou na perda de confiança em Boris Johnson. Na segunda-feira (5) ocorreu a saída quase conjunta dos ministros da Saúde e das Finanças, Sajid Javid e Rishi Sunak, mas o movimento se estendeu a cargos menores, como no caso de secretários particulares parlamentares, que auxiliam ministros de Estado em suas funções.
No total, são pelo menos 50 funcionários do governo até o momento que deixaram suas posições.
Ao responder perguntas feitas ontem pelo parlamento, Boris Johnson afirmou inicialmente que não iria renunciar ao cargo. “É exatamente o momento em que se espera que um governo continue com seu trabalho, não que renuncie”.
Consequências da renúncia
Até que o Partido Conservador conclua a escolha de um novo líder de governo, o que pode levar cerca de dois meses, considerando saídas anteriores, Boris segue em sua posição de primeiro-ministro.
Em seu discurso, lamentou a escolha do partido, mas agradeceu pelo período em que esteve à frente do cargo:
‘Obrigado por esse mandato incrível, a maior maioria conservadora desde 1987, a maior quantidade de votos desde 1979. A razão que lutei tanto nos últimos dias para continuar não era só porque eu queria fazer isso, mas porque sentia que era meu trabalho, meu dever, minha obrigação, continuar a fazer o que prometemos em 2019″
Agora, qualquer deputado do partido Conservador, que tem a maioria no parlamento, pode se candidatar, mas precisa ser nomeado por pelo menos outros 8 membros.
Entre os nomes mais cotados estão Liz Truss, secretária de Relações Exteriores, Jeremy Hunt, ex-secretário de Relações Exteriores, Ben Wallace, ministro da Defesa, Rishi Sunak, ex-ministro das Finanças, Nadhim Zahawi, ex-secretário de Educação e novo ministro das Finanças, e Penny Mordaunt, ex-secretária de Defesa.