O Brasil e a China assinaram um acordo na semana passada para viabilizar as transações de câmbio direto entre os dois países, usando o yuan (moeda oficial chinesa) e o real – portanto, sem a necessidade de utilização do dólar nessas operações.
De acordo com o governo, a expectativa é que os custos sejam reduzidos e haja uma facilitação do comércio entre os dois países.
Na opinião de Renan Zanella, analista da Convex Research, a medida terá pouco efeito prático, já que a maioria dos exportadores deverá continuar optando por receber em dólares.
“Esta é só uma notícia que deu muito o que falar, mas que vai fazer pouca diferença, já que o dólar continua tendo seu destaque como moeda de reserva global. 80% das transações no mundo continuam sendo efetuadas em dólares, a maior parte das notas fiscais emitidas no mundo são em dólares, 50% de títulos globais são em dólares. Então nada vai, pelo menos por agora, reduzir o papel do dólar”, afirma.
Segundo Zanella, como a medida não obriga que o dólar deixe de ser usado, ela é considerada “neutra”. “Não é algo positivo e nem negativo para o Brasil. Se de alguma forma se tornar uma obrigatoriedade que a negociação entre os dois países seja entre real e yuan, aí sim seria algo negativo”, afirma.
Rodrigo Giraldelli, CEO da China Gate, empresa especializada em consultoria e educação sobre importação, afirma que as empresas que decidirem deixar de usar o dólar nas operações precisam ter atenção com as características do yuan e o seu “controle” pelo governo chinês.
“O dólar tem uma flutuação livre – o preço sobe e desce de acordo com o mercado. Já a moeda chinesa é praticamente administrada pelo governo daquele país. Se o governo tomar uma medida e desvalorizar sua moeda, as empresas que estão transacionando em yuan podem perder”, destaca.
Ele afirma que é difícil saber como o governo chinês vai se comportar numa crise futura em relação à administração da sua taxa de câmbio. “Ou seja, na prática, os produtos podem ficar mais caros ou mais baratos na China, de acordo com as decisões do governo e não por questões técnicas de livre mercado”, alerta.