* Diego Lazzaris
Maria Antônia Anacleto
A economia norte-americana pode enfrentar uma recessão nos próximos meses? A pergunta que tem sido feita para diversos economistas ainda não tem uma resposta precisa, mas especialistas apontam que há muitos indícios de que um quadro recessivo está se aproximando dos EUA.
Mas, afinal, o que indica que a maior economia do mundo estaria entrando em um processo de recessão? Renan Zanella, analista da Convex Research, explica que em primeiro lugar é importante entender o conceito. “Começamos a chamar de recessão quando há dois trimestres consecutivos de queda do PIB (Produto Interno Bruto) de um país”, afirma.
Isso, de fato, ainda não aconteceu. No entanto, o especialista aponta que o PIB é considerado um indicador atrasado. Por exemplo: em fevereiro de 2023 o governo divulga dados do PIB do 4º trimestre de 2022. Já em maio, saem dados do PIB do 1º trimestre deste ano. “Portanto, só saberemos que estamos em uma recessão quando já estivermos pelo menos há alguns meses dentro dela”, alerta Zanella.
Por isso, ele lembra que uma das melhores maneiras de acompanhar o desempenho da economia é por meio dos chamados “indicadores antecedentes”. “Através dos indicadores econômicos antecedentes nós conseguimos saber qual é o pulso da atividade econômica e se ela caminha para uma desaceleração ou para uma aceleração”, explica.
Os indicadores de alta frequência são considerados um dos melhores meios para conseguir “antecipar” movimentos econômicos que serão divulgados oficialmente apenas depois de alguns meses.
“Usamos dados da economia praticamente em tempo real para sabermos como que a atividade de um país está se comportando no curto prazo”, explica o analista da Convex. “Se observarmos o indicador de alta frequência dos EUA percebemos que a economia norte-americana já está em processo de desaceleração há alguns meses”, continua o especialista.
Como antecipar uma possível recessão
Como nem todos têm acesso a estes indicadores, Zanella destaca outros meios de conseguir monitorar a atividade econômica com dados menos atrasados. Um deles é por meio da pesquisa feita pela Conference Board, onde os CEOs são questionados sobre a expectativa de crescimento econômico para os próximos seis meses.
“Se olharmos para o gráfico que mostra o histórico desta pesquisa, veremos que atingimos o menor patamar desde a década de 1990. Por meio desta ótica dos CEOS norte-americanos, já estamos muito próximos de uma recessão”, afirma.
Outro indicador muito tradicional e assertivo é o PMI, formado a partir da resposta dos gerentes de compra das companhias americanas. O PMI por si só já é antecedente, pois tende a antecipar o ritmo da economia em três a seis meses.
“Mas dentro dele existe um subitem que tem um poder de antecipação ainda maior, que é o índice de novos pedidos”, diz o analista da Convex.
O PMI possui uma linha de 50 pontos e quando a leitura fica acima de 50, a atividade econômica registrou expansão. Já se a leitura ficar abaixo de 50, a economia está em um território de contração.
“Se olharmos para o PMI de manufatura, para o de serviços e principalmente para o índice de novos pedidos, estamos em uma região de contração econômica e uma região que antecipou recessões ao longo da história”, alerta.
Um outro sinal que pode indicar a aproximação de uma recessão é a inversão da curva de juros norte-americana – ou seja, quando papéis com vencimentos mais longos oferecem um retorno menor do que os títulos de curto prazo. “Quando o papel de 2 anos paga mais do que aquele que vence em 10 anos, há um sinal quase infalível ao longo da história de que haverá recessão”, diz Zanella. “Já ocorreu a inversão há alguns trimestres e esse sinal persiste”, continua.
Opinião diferente
A equipe da corretora norte-americana Avenue tem uma visão diferente e não acredita que os Estados Unidos estejam caminhando para um quadro recessivo. Em entrevista ao Money Crunch, o analista Guilherme Zanin destaca que indicadores continuam mostrando força no país.
“As vendas de varejo vieram forte. O PCE (Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal, na sigla em inglês), que é o principal indicador de inflação do Banco Central norte-americano, tem mostrado que as pessoas estão consumindo. O desemprego também está em um nível baixo, e o CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na sigla em inglês) ainda mostra força. Então eu acho bem improvável que tenhamos uma recessão”, afirma Zanin.
Zanella, da Convex, pondera que apesar de o relatório de emprego payroll de janeiro ter mostrado a criação de vagas bem acima do esperado, desde março de 2022 a maioria dos postos de trabalho que foram adicionados na economia americana sao part-time, ou seja, são de trabalhos de tempo parcial e não integral. “Significa que o mercado de trabalho dos EUA não está tão forte quanto parece”, argumenta.
Como se posicionar
No cenário de recessão traçado pela Convex, a tendência é que as empresas vendam menos, os consumidores fiquem mais exigentes e as margens caiam. Então, é normal pensar que ocorrerão quedas nos lucros corporativos.
Uma vez que os preços das ações tendem a acompanhar o lucro das empresas no longo prazo, deve ocorrer também uma redução no preço das ações.
Portanto, em um cenário recessivo, o conselho é que o investidor adote uma postura mais defensiva e cautelosa com o mercado de ações.
Já o mercado de renda fixa e ativos de proteção, como ouro e Bitcoin, devem ganhar espaço. “Quando a recessão chega, a tendência é que os juros caiam, tornando um cenário positivo para os Bonds (títulos de renda fixa), para o ouro e para o Bitcoin”, afirma Zanella.
Mesmo sem acreditar em um cenário recessivo, Zanin, da Avenue, também vê o mercado de Bonds como uma boa opção atualmente.
“O mercado de ações ainda tem um valuation relativamente alto, o dividendo que é baixo e o investidor não tem uma boa relação risco-retorno. Em compensação, a renda fixa parece bem atrativa e o investidor consegue ganhar até 7% em dólar, o que é muito próximo à média histórica do retorno das ações, só que com uma volatilidade menor”, conclui o especialista.