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Quebra do SVB: Mercado de crédito nos EUA e risco soberano de alguns países preocupam, diz economista

Na última sexta-feira (10), o mercado financeiro viu o início de uma crise de liquidez no sistema financeiro americano, com o Silicon Valley Bank (SVB), conhecido como “o banco das startups”, sofrendo intervenção do governo dois dias após sofrer uma corrida bancária.

Com isso, o banco se tornou a maior instituição financeira dos EUA a quebrar depois do Lehman Brothers (que desencadeou a crise econômica global em 2008), criando temores de contágio nos setores de tecnologia e finanças nos EUA e no mundo.

Além do SVB, o Signature Bank, de Nova York, também teve suas atividades encerradas por órgãos financeiros dos Estados Unidos.

Segundo Richard Rytenband, economista e CEO da Convex Research, este processo não é “nenhuma novidade”.

“O banco central norte-americano demorou para agir com a inflação e também com o ciclo de aperto monetário, fazendo umas ‘barberagens’, errando a mão, mesmo com a instabilidade no sistema financeiro, mesmo com os sinais da economia americana caindo, o mercado imobiliário americano também se deteriorando rapidamente. E agora temos uma situação com vários bancos pipocando, com destaque para o SVB”, afirmou o economista.

Rytenband destacou que este cenário é consequência do processo que se iniciou com a grande onda inflacionária, observada em 2022. Após a elevação rápida das taxas de juros por parte do BC norte-americano (Fed), o mercado passou a notar impactos na precificação de várias classes de ativos, entre elas, a de títulos com prazos mais longos do Tesouro Americano.

E foi exatamente isso que pegou em cheio o SVB, pois possuía a maior parte de sua carteira alocada nestes títulos de logo prazo, mantendo os depósitos dos clientes em títulos públicos e papéis lastreados em hipotecas, isto é, ativos de renda fixa.

“Estes títulos foram muito afetados, caíram de preço e descasou os ativos e passivos do banco”, explicou Rytenband.

A carteira de clientes do SVB estava bastante concentrada em startups de tecnologia, empresas que vêm sofrendo com a alta dos juros e que estão precisando de recursos. Portanto, um aumento de saques justamente em um momento em que a venda antecipada de títulos tem resultado em prejuízo acabou sendo fatal para o banco.

Paralelamente, o mercado imobiliário norte-americano estava em rápida deterioração, de forma que diversos bancos regionais estão declarando créditos imobiliários e outros sofrendo as consequências de terem feito empréstimos para projetos que estão “naufragando”.

Decisão do Fed e FDIC

Na noite de ontem (12), os reguladores do EUA (Federal Reserve e Federal Deposit Insurance Corporation) anunciaram que os clientes do Silicon Valley Bank (SVB) terão acesso ao dinheiro de todos os depósitos a partir desta segunda-feira (13), como parte de um plano para mitigar os efeitos da quebra do banco no sistema financeiro americano.

Porém, o economista ressalta que esta estratégia para garantir liquidez considera apenas ativos bons.

“O grande problema é o caso de bancos que não possuem esses ativos de qualidade, como o SVB tinha. Então, esse vai ser o grande desafio a partir de agora. Os órgãos financeiros vão ter que criar algum mecanismo para conseguir limpar o balanço desses bancos que tem ativos que não são tao bons e que estão sendo afetados”, afirmou Richard Rytenband.

O que esperar daqui para frente?

Rytenband deixou claro que a próxima etapa será a de risco soberano, ou seja, o risco de outros países começaram a “abrir o bico” de suas respectivas dívidas.

“São dois pontos fundamentais para entender: primeiro, o que foi feito até agora é importante para o resgate do SVB, mas não resolve todo o problema, porque há um problema generalizado envolvendo crédito no geral. O principal é o mercado imobiliario e os creditos originados desse mercado, que estão se deteriorando rapidamente. Está uma situação de contágio em termos de aperto de liquidez”.

O economista julga que o mercado financeiro voltará a ver um movimento de estímulos monetários e fiscais, como forma do governo conter a queda da atividade econômica.

“Esse retorno terá uma série de impactos na precificação de ativos. Existem ativos que respondem mais rapidamente a essas variações de liquidez e outros demoram mais. No caso do mercado acionário, ele tende a sofrer um pouco por conta da recessão e toda essa instabilidade”, finalizou.

Na última sexta (10), a consultoria Gavekal afirmou em relatório que está pessimista com o setor bancário americano, considerando que há um alto risco de que problemas surjam em outros bancos.

Porém, em entrevista à rede de TV americana CBS neste final de semana, a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, disse que a situação atual é bem diferente da crise financeira vista em 2008, quando o colapso do Lehman Brothers desencadeou uma quebradeira generalizada de bancos, inclusive de grande porte.

Entre em contato com a redação Money Crunch: [email protected]

Imagem de destaque: Coolcaesar, CC BY-SA 4.0
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