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O que aconteceu em 1971?

Em 2020, quando o preço do Bitcoin (BTC) ainda estava começando seu rali de quase 2.500% de alta, um perfil surgiu no Crypto Twitter. Intitulado WTF Happened in 1971? (o que diabos aconteceu em 1971?, em tradução livre), o perfil surgiu inicialmente como um meme, mas logo virou uma importante referência sobre economia e dinheiro.

O nome do site faz referência ao dia 15 de agosto de 1971, no qual o então presidente dos Estados Unidos Richard Nixon anunciou o fim da conversibilidade internacional do dólar em ouro. Com isso, o mundo rompia com o último laço que existia do antigo padrão-ouro e entrava no atual modelo de moedas fiduciárias.

Durante os últimos 51 anos, as consequências dessa decisão resultaram em alta nos preços, um dinheiro cada vez mais desvalorizado e crises financeiras sem precedentes. Mas 38 anos depois do chamado “Nixon Shock”, um programador anônimo deu ao mundo uma alternativa para acabar com estes problemas.

Mas, afinal, o que aconteceu em 1971?

Acordo de Bretton Woods

Durante séculos, a humanidade adotou o ouro como um padrão monetário por livre escolha, e não por uma imposição estatal. O ouro era escasso, tinha propriedades de amplo valor, era utilizado na indústria e não se corroía como outros metais. Isso fez dele a escolha do mercado para servir como dinheiro.

Entre a segunda metade do século XIX até a Segunda Guerra Mundial, o mundo viveu sob o regime do padrão-ouro. As moedas nacionais, como a libra inglesa e o dólar americano, eram simples representações de quantidades de ouro. Na prática, o valor das moedas era tão fixo quanto os 100 centímetros que compõem um metro.

Como resultado, praticamente não existia inflação, já que os preços se mantinham estáveis e até caíam ao longo do tempo. Mas esse sistema ruiu com o início da Segunda Guerra Mundial, quando os países removeram o lastro do ouro da moeda para conseguir arcar com as dívidas da guerra.

Em 1944, os EUA e seus aliados criaram o sistema de Bretton Woods, no qual o dólar passou a ser a moeda internacional. O dólar manteve o seu lastro em ouro a uma taxa fixa de US$ 35 por onça-troy, enquanto os demais países lastreiam suas moedas no dólar.

O que aconteceu em 1971?

Só que para manter este regime, os países tiveram que enviar todo o ouro que possuíam para o mítico Fort Knox, nos EUA, e receberam dólares em troca. Para manter o acordo, os EUA se comprometeram a não imprimir dólares além do valor equivalente em ouro.

Mas uma década depois do acordo de Bretton Woods, teve início a Guerra do Vietnã, e os EUA logo deixaram de cumprir o acordo e passaram a emitir dólares em excesso. Isso fez as reservas de dólares dos países perderem valor em relação ao ouro, visto que havia mais dólares em circulação.

Diante disso, os países rapidamente começaram a exigir seu ouro de volta em troca dos dólares que receberam. Para evitar perder sua reserva do metal, Nixon determinou o fim da conversibilidade do dólar, determinando que as moedas deveriam flutuar em termos de valor.

Resultados

Os efeitos disso são contestados, para dizer o mínimo. Quando Nixon rompeu o padrão-ouro, grande parte dos economistas comemorou a decisão. Na visão deles, o ouro era uma limitação ao crescimento global, uma “relíquia bárbara”, como disse o economista John Maynard Keynes.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo, sugere que os temores na época de que o afastamento do ouro traria o fim da era de rápido crescimento eram equivocados. Na verdade, o FMI sugeriu que seria exatamente o oposto.

“Na verdade, a transição para taxas de câmbio flutuantes foi relativamente suave e certamente oportuna: taxas de câmbio flexíveis tornaram mais fácil para as economias se ajustarem ao petróleo mais caro, quando o preço começou a subir repentinamente em outubro de 1973. As taxas flutuantes facilitaram ajustes aos choques externos desde então”, afirmou o órgão em 1974.

Só que não foi isso o que aconteceu. Logo na década de 1970, os EUA passaram por um fenômeno inédito em sua história: a estagflação, ou seja, um período de crescimento econômico baixo, alto desemprego e uma inflação elevada. 

Pela primeira vez na história americana, os índices de preço nos EUA superaram a marca de 10% ao ano – marca que só fica à frente da grande inflação de 2021 e 2022. Além disso, os salários médios da economia estagnaram, sem registrar ganhos reais, e até mesmo a desigualdade social cresceu, de acordo com dados do WTF Happened…, que também virou um site.

Outros dados dignos de nota:

  • o PIB aumentou, mas a parcela destinada aos trabalhadores despencou; 
  • os preços das casas dispararam, fazendo com que as “poupanças” dos americanos se tornassem inextricavelmente ligadas aos valores das casas;
  • em todo o mundo os episódios de hiperinflação aumentaram, as moedas caíram com mais frequência e houve um aumento no número de crises bancárias;
  • a taxa de poupança pessoal desabou;
  • e mesmo a taxa de encarceramento aumentou cinco vezes, as taxas de divórcio dispararam e o número de pessoas com quase 20 anos morando com os pais aumentou exponencialmente.

O Bitcoin

Foi então que 38 anos depois do Nixon Shock, Satoshi Nakamoto utilizou o ethos do padrão-ouro e de uma moeda forte para criar o BTC. Não se sabe quem é Satoshi Nakamoto, mas sabe-se que ele tinha amplos conhecimentos de economia, história e, naturalmente, de programação.

É por isso que o BTC é dotado de propriedades tão únicas de uma moeda forte. Por exemplo, sua oferta é inelástica – não pode crescer além dos 21 milhões de unidades – e a política monetária é bastante clara. Há o halving, que ocorre a cada 210 mil blocos (cerca de quatro anos), o ajuste de dificuldade a cada 2016 blocos (cerca de duas semanas), e a alta divisibilidade (um BTC vale 100 milhões de satoshis).

Além disso, a maioria de quem investe em BTC não tem como objetivo especular, mas sim poupar para o longo prazo. Exatamente como as pessoas faziam antigamente ao guardar ouro em casa ou, no caso dos piratas, enterrá-lo em locais secretos. Ninguém ligava para isso, pois o ouro mantém seu valor ao longo do tempo.

Da mesma forma, ninguém se importa em deixar BTC numa carteira por anos, já que a tendência é que o preço se valorize ainda mais. Assim como aconteceu com o ouro, o BTC tende a preservar seu valor sem a necessidade de qualquer esforço ou de qualquer conhecimento complexo de finanças.

Em suma, o que aconteceu em 1971 foi que o dinheiro deixou de ter qualidade e passou a ser um bem sem qualquer valor, que depende exclusivamente da honestidade de políticos e burocratas. O BTC surgiu para reverter esta tendência e aperfeiçoar o novo dinheiro humano.

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