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O Bitcoin além da moeda

Apesar do Bitcoin (BTC) ser reconhecido globalmente como uma moeda digital escassa e descentralizada, esta é apenas uma das funções que ele tem. Como tecnologia, o Bitcoin evoluiu muito nos últimos 14 anos, e hoje a rede tem um valor tão alto quanto o valor de cada satoshi.

Servir como dinheiro foi a primeira função do BTC, e de fato é a mais importante. Por isso que as mudanças na rede costumam demorar tanto e envolvem um debate tão intenso e, por muitas vezes, acalorado. 

Entre a implementação do SegWit e do Taproot, por exemplo (as duas maiores mudanças na rede), passaram-se mais de quatro anos. Mas depois que o Taproot foi implementado, as novidades surgiram como uma cascata. Foram os Ordinals, depois os Inscriptions, tudo provando que o uso da rede vai muito além da moeda.

Mas quais usos o Bitcoin pode experimentar que vão além de transações ou da criação de NFTs? Será que a rede que surgiu para destruir os mercados tradicionais pode na verdade ajudá-los a evoluir?

As limitações do Bitcoin

O BTC como moeda possui uma série de características que o tornam único e um bem de valor imensurável. A sua escassez é uma delas, mas não é a principal, já que a demanda é tão importante para construir o valor de algo quanto a escassez.

E a demanda pelo BTC só tem crescido nos últimos 14 anos, período no qual a criptomoeda saiu dos fóruns do Reddit e ganhou a mesa dos gestores de Wall Street. O BTC deixou de ser um artigo de interesse dos nerds donos de Trezors e Ledgers e virou o ativo mais recomendado por grandes gestores.

Mas o fato do BTC ter qualidades inigualáveis não significa que o Bitcoin seja perfeito (entenda BTC como a criptomoeda ou token e Bitcoin como a rede). Não é. O Bitcoin possui muitas limitações que foram resolvidas ao longo do tempo e outras que ainda existem, mas que estão na mira dos desenvolvedores.

Por exemplo, durante muitos anos não era possível construir nenhuma aplicação mais complexa no Bitcoin. NFTs? Finanças descentralizadas (DeFi) complexas? Esquece, a rede não tinha essa capacidade. Era só enviar e receber valor e pronto.

Aliás, esta limitação do Bitcoin foi justamente o que levou ao surgimento do que muitos julgam como seu maior concorrente: o Ethereum. Vitalik Buterin tentou criar aplicações mais complexas no Bitcoin e viu que isso não era possível, o que o levou a criar o seu próprio ecossistema.

Por isso, muitos julgam que o Bitcoin é ultrapassado ou que possui limitações intransponíveis, e que é questão de tempo até que ele fique obsoleto para sempre. Mas isso não poderia estar mais longe da realidade atual.

Os “puxadinhos” do Bitcoin

Uma das razões pelas quais o Bitcoin não muda com frequência é justamente a sua natureza de um dinheiro digital. E como a história nos mostra, um dinheiro precisa ter regras claras e sólidas, ou ele acaba perdendo valor ao longo do tempo.

Nesse sentido, a imutabilidade da rede não é uma falha, mas sim a sua maior vantagem. Foi justamente esta segurança que fez o BTC chegar perto da diligência (15 anos) sem sofrer nenhum tipo de ataque bem-sucedido ou divisão grave (como o Ethereum) nem ficar paralisado durantes horas sem processar transações (alô, Solana!).

Para manter essa segurança, o Bitcoin não faz mudanças ou implementa novidades em sua rede principal, mas sim em redes alternativas. Estas redes receberam vários nomes ao longo da história: já foram sidechains e hoje são conhecidas como redes de segunda camada.

Essas redes possuem um desenvolvimento próprio e são criadas por uma equipe diferente do Bitcoin, mas funcionam tendo a blockchain como base. Só que como não operam na rede principal, seu uso não traz riscos para o Bitcoin, o que permite que elas consigam operar livremente.

Dessa forma, enquanto o Bitcoin se mantém como uma reserva de valor, as segundas camadas servem como plataformas de teste para novas funcionalidades. Veja agora quais são as principais camadas nesse sentido e quais setores elas podem revolucionar.

Lightning Network

A Lightning Network, também conhecida como Lighning ou simplesmente LN, é a mais famosa de todas as segundas camadas. Mas na verdade, ela não faz um papel muito diferente da blockchain, exceto que o faz com mais velocidade e capacidade.

O Bitcoin só consegue processar um total de 7 transações por segundo, contra mais de 70 mil da Visa, por exemplo. Já a LN expande essa capacidade para milhões de transações por segundo, algo maior do que qualquer processador de pagamentos existente hoje. Além disso, o custo de uma transação via LN é muito menor do que na blockchain, permitindo a realização de transferências de baixo valor usando BTC. 

Por isso, a LN é a principal camada que permite o BTC agir como uma moeda de fato, possibilitando gastos de valores irrisórios e do dia-a-dia.

Stacks

A Stacks é um protocolo de segunda camada que traz os famosos contratos inteligentes para contratos inteligentes. Seu objetivo é permitir que contratos inteligentes e aplicativos descentralizados usem o Bitcoin como um ativo e liquidem transações na blockchain do Bitcoin.

Dentro do Stacks, a maior possibilidade de uso está no mercado financeiro, particularmente nas ações. O protocolo traz para o Bitcoin a tokenização de ações, algo que já existe no Ethereum através da Synthetix Network, permitindo a criação de tokens que representam ações de uma companhia.

A tokenização apresenta uma série de benefícios, como a autocustódia de ações – reduzindo os custos com custodiantes – e a possibilidade de operar no mercado 24 horas por dia, acabando com os feriados e finais de semana.

Liquid

Criada pela Blockstream, a Liquid é uma segunda camada que, assim como a Stacks, permite a emissão de tokens de segurança (security tokens), ações tokenizadas e outros ativos digitais no Bitcoin.

Além disso, a Liquid também permite a troca desses ativos usando carteiras de pedidos sem custódia, ou seja, onde o usuário é quem guarda as senhas. Isso faz os tokens emitidos na Liquid ficarem protegidos contra roubos, ataques e outros eventos que costumam gerar grandes prejuízos em outras redes.

Apesar de ser parecida com a Stacks, a Liquid tem a vantagem de já contar com um caso de uso futuro: esta rede foi escolhida pelo governo de El Salvador para fazer a emissão dos Volcano Bonds, os títulos lastreados em BTC que o país planeja emitir ainda em 2023. 

Estes serão os primeiros títulos emitidos por um estado com o uso da blockchain em toda a história, um evento aguardado por toda a comunidade de bitcoiners e que também pode confirmar o potencial da Liquid como uma rede de tokenização para o Bitcoin.

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