O cenário de juros cada vez mais altos e inflação persistente deve continuar assolando boa parte dos países por algum tempo e trazendo preocupações para as autoridades monetárias ao redor do mundo. A opinião é dos economistas da FGV (Fundação Getulio Vargas), que divulgaram o relatório Macro do mês de junho.
“O quadro atual é bem desafiador para os bancos centrais, pois a perspectiva da queda de juros vai demorar muito tempo para ser vislumbrada, visto que a inflação não deve ceder rapidamente, mesmo com a atividade econômica mais fraca”, afirmam os economistas Armando Castelar Pinheiro e Silvia Matos.
Aqui no Brasil, eles apontam que a atividade vem mostrando um desempenho satisfatório no primeiro semestre, mas isso se deve a fatores temporários, como a reabertura da economia, a normalização dos serviços públicos, os estímulos fiscais e a expressiva alta nos preços das commodities.
“De fato, ainda que já antes avaliássemos que não haveria recessão na economia brasileira este ano, reconhecemos que a resiliência da atividade no curto prazo tem surpreendido. Ocorre, porém, que são impulsos bem transitórios”, afirmam.
Segundo os economistas, sem novos estímulos, o que irá predominar cada vez mais é a política monetária restritiva, que deverá impactar a economia brasileira com alguma defasagem.
A desaceleração econômica no resto do mundo também irá contribuir para a diminuição do ritmo de atividade no país. “O crescimento econômico brasileiro no primeiro trimestre foi significativamente influenciado pelo quadro externo favorável, o qual não deve se manter nos próximos trimestres”, destacam, lembrando que a OCDE reduziu as perspectivas de crescimento mundial para 3% em 2022, ante projeção anterior de 4,5%. Para 2023, a previsão agora é de 2,8%.
No cenário internacional, a inflação também se mostra persistente e vem batendo recorde em vários países da Europa e nos EUA. Isso tem desencadeado reações nos principais bancos centrais do mundo.
Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou o fim do programa de compras de ativos e destacou que vai iniciar o aperto monetário em julho.
Nos EUA, o Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) confirmou o aumento da taxa de juros de 75 b.p. na última reunião do Fomc (Comitê de Mercado Aberto, na sigla em inglês).
“Em resumo, o movimento de subida de juros está se generalizando, e as condições monetárias internacionais estão ficando bem mais restritivas que o previsto pelo mercado. Lá fora, como aqui, o aperto monetário vai contribuir para uma expansão mais lenta da atividade”, pontuam Castelar e Silvia Matos.