Um levantamento realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e divulgado na primeira semana de junho mostra um dado preocupante no Brasil: um em cada cinco jovens que têm entre 15 e 29 anos não está nem estudando e nem trabalhando. São os chamados jovens “nem-nem” (nem estuda, nem trabalha).
De acordo com a “Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua: Educação 2022” 20% dos jovens nesta faixa etária não estavam estudando e nem trabalhando no ano passado. Já 15,7% estavam ocupados e estudando, 25,2% estudavam, mas não trabalhavam e 39,1% estavam ocupados e não estudavam.
Um outro levantamento realizado pelo SESI/SENAI e divulgado em maio deste ano mostra que só 15% dos brasileiros com mais de 16 anos afirmam que estudam atualmente (ensino fundamental, ensino médio, técnico, superior ou pós-graduação) – 53% na faixa etária e 16 a 24 anos.
Entre os que não estudam atualmente, apenas 38% alcançaram a escolaridade que desejavam e 57% não tiveram condições de continuar os estudos por diferentes motivos, sendo o principal deles precisar trabalhar para manter a família (47%).
Para 18% dos jovens de 16 a 24 anos, a razão para deixarem de estudar é a gravidez ou nascimento de uma criança. A evasão escolar por gravidez/filho é maior também entre mulheres (13%), moradores do Nordeste (14%) e das capitais (14%) – o dobro da média nacional, de 7%.
“Não podemos ter um projeto de país, para o desenvolvimento social e econômico, sem considerar a educação. Conhecer os motivos e o perfil dos jovens e adultos que interromperam os estudos, e consequentemente sua evolução profissional, é indispensável para criar oportunidades e reduzir desigualdades”, alerta o diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi.
O ensino médio, que deveria ser a ponte entre a educação básica e o início da trajetória profissional, é, provavelmente, a etapa mais emblemática. De acordo com a pesquisa do SESI/SENAI, cerca de 1 em cada 10 alunos reprova (4,7%) ou abandona (4,2%) a escola no 1º ano. O índice de reprovação cai para 3% no 3º ano, mas o de abandono sobe para 4,7%. Os dados são referentes ao Censo Escolar 2021.
“O Brasil não conseguiu cumprir a agenda da educação no século XX como outros países. Deveríamos estar discutindo inovação no século XXI, mas carregamos problemas estruturais, de qualidade e na matriz educacional, que travam nosso desenvolvimento. Precisamos melhorar a qualidade e ampliar a oferta da educação profissional”, afirma Lucchesi.
Sabático com dinheiro de quem?
Enquanto a falta de emprego nas camadas mais pobres da população costuma estar mais ligada às dificuldades estruturais, entre os jovens com mais recursos, não trabalhar ou continuar os estudos muitas vezes é uma opção.
O filósofo Luiz Felipe Pondé comenta sobre a chamada “geração Millenial”, de jovens nascidos entre o começo dos anos 1980 e a metade da década de 1990.
Segundo ele, entre estes jovens das classes sociais mais altas, existe uma mudança na relação com o mercado de trabalho atualmente. “As palavras típicas para eles são ‘significado’ e ‘projeto’. O Millenial que está sem trabalhar não está desempregado, ele fala que está procurando novos desafios”, diz, em seu canal do YouTube.
O filósofo destaca que para esta parte dos jovens costuma existir uma estrutura econômica proveniente dos pais que suporta as suas questões existenciais. “Qualquer jovem que queira ficar um ano ‘procurando a si mesmo’ fazendo um sabático na Europa, sabe que precisa de alguém para sustenta-lo”, afirma Pondé.
Jovens mal preparados para o mercado de trabalho
Outros estudos recentes também tentam desvendar o assunto. Um deles, foi publicado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Chamado de “Millennials na América Latina e no Caribe: trabalhar ou estudar?”, ele aponta que muitos jovens chegam mal preparados para o mercado de trabalho. “Cerca de 40% dos entrevistados não são capazes de executar cálculos matemáticos muito simples e úteis para a vida cotidiana, como dividir uma quantia de dinheiro em partes iguais”, aponta o relalório.
Além disso, falta aos jovens da amostra algumas habilidades técnicas essenciais para o novo mercado de trabalho. Por exemplo, menos de um quarto declara falar inglês fluentemente .
“Se não forem corrigidas, essas lacunas de habilidades serão uma limitação para obter um bom desempenho no mercado de trabalho”, dizem os pesquisadores.
Um outro ponto importante que foi destacado pelos empregadores é que falta em boa parte dos jovens trabalhadores algumas características socioemocionais relevantes – como por exemplo liderança, trabalho em equipe e responsabilidade.