A inversão da curva de juros dos Estados Unidos nos períodos de 2 anos e 10 anos vem causando debate sobre a iminência de uma recessão na maior economia do mundo. De fato, quando se trata de curva de juros e, ao analisarmos seu histórico, é notório que ela age como um indicador antecedente de recessões (o gráfico abaixo demonstra, nas áreas em cinza, recessões logo após o spread entre os títulos de 2 e 10 anos ficar negativo). Neste contexto, iremos analisar alguns fatores que corroboram a importância desse indicador.
Mesmo que você nunca tenha visto ou ouvido falar sobre curva de juros e/ou spread 2-10 anos, com uma análise simplesmente visual do gráfico, já é possível identificar que, quando o spread 2-10 anos fica negativo (significa que o rendimento dos títulos soberanos do EUA de dois anos é maior do que o rendimento dos títulos soberanos dos EUA de 10 anos), ocorreu uma recessão logo à frente.
Dando continuidade, os rendimentos de tais títulos refletem as expectativas do mercado sobre o instrumento de política monetária, promovido pelo Fed (banco central norte-americano), ao longo do seu vencimento. Portanto, se o rendimento do título de 2 anos estiver em 2,50%, significa que, em média, o mercado esteja precificando que a taxa básica de juros do Fed seja de 2,50% durante este período.
Mesma situação para o título de 10 anos, ou seja, se o rendimento para os títulos de 10 anos estiver em 2,70%, significa que o mercado possui como expectativa que o Fed manterá, pelos próximos 10 anos, uma taxa de juros, em média, de 2,70%.
Acatando a premissa de que as taxas de juros são expectativas do mercado e numa situação em que a taxa de curto prazo é maior do que a de longo prazo, isso denota que o mercado possui expectativas de reduções nos juros em momentos à frente e, de fato, a principal razão para uma eventual redução dos juros é porque o Fed estaria vislumbrando recessão (redução nas taxas de juros promove expansão econômica). Portanto, se o mercado está precificando cortes de taxas e tais cortes ocorrem devido a temores de recessão, então o mercado está, de fato, precificando uma recessão.
Para concluir, é necessário analisar a atual conjuntura da economia global, sobretudo dos Estados Unidos, a maior economia do mundo. Atualmente, a inflação no acumulado dos últimos 12 meses, nos EUA, encontra-se em 8,5% ao ano, maior patamar dos últimos 40 anos, o que vem assustando os americanos em função de não estarem acostumados com uma perda de poder de compra da moeda tão significativa como a atual.
Com bastante pressão popular e correndo atrás da inflação, o Fed vem adotando uma postura mais hawkish (menos tolerante com a inflação) e já iniciou, recentemente, o ciclo de aperto monetário no país com o aumento das taxas de juros (e deve acelerar nos próximos meses essa dinâmica).
Tal postura contracionista tende a controlar a inflação, todavia, mais à frente, a consequência é um arrefecimento geral em toda a economia, podendo ser traduzido numa real recessão. Dessa forma, a inversão da curva de juros, de fato, possui atributos suficientes, por esta ótica, para ser considerada com um indicador antecedente relevante para prever recessões.