A enxurrada de dinheiro novo que entrou em circulação em 2020 e 2021 – injetado pelos governos na tentativa de conter a desaceleração econômica provocada pela pandemia de Covid-19 – teve uma consequência que já vinha sendo alertada por parte dos economistas: o forte aumento da inflação de preços em boa parte dos países do mundo.
Apesar de a inflação ser um problema global, o Brasil é um dos países que mais sofrem com a corrosão dos preços dos produtos e serviços. De acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), a inflação no Brasil deve fechar 2021 maior do que em 83% dos países do mundo.
O estudo, que leva em consideração dados de inflação global divulgados pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), mostra que em outubro de 2020, 57% (108 países, em 191) dos países teriam uma inflação em 2021 menor do que a taxa brasileira.
Já em abril deste ano, o percentual subiu para 70% (134 países, em 192). E, finalmente, na última reunião do Fundo, em outubro de 2021, as projeções indicam que 83% (159 países, em 191) dos países do mundo devem apresentar uma taxa de inflação neste ano menor do que a taxa brasileira.
Mas o cenário pode ser ainda pior, já que a inflação projetada pelo FMI para o Brasil é de 7,9% para 2021, bem menor do que as estimativas dos analistas brasileiros, que projetam o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 8,7% (de acordo com o Boletim Focus, do Banco Central.
Portanto, se levarmos em consideração as projeções dos analistas, 86% (165 países, em 191) dos países do mundo devem apresentar uma inflação neste ano menor do que a taxa brasileira.
Alta da inflação no mundo
Há um ano, o FMI projetava que a inflação no mundo em 2021 seria de 3,3%. Agora, as projeções são de 4,8% para a inflação global.
Nas economias emergentes, a projeção aumentou de 4,6% para 5,8%. Na América Latina, a projeção passou de 6,8% para 9,7% em um ano.
Já para o Brasil, segundo as projeções do FMI, a taxa de inflação aumentou de 2,9% em outubro de 2020 para 7,9% em outubro deste ano, ou seja, um aumento de 5 pontos percentuais em 12 meses.
Tempestade perfeita
Em outro relatório publicado recentemente, a FGV aponta uma série de fatores que contribuem para a “tempestade perfeita” da inflação no Brasil. O primeiro deles é a alta nos preços internacionais de commodities, em torno de 40% desde o início da pandemia, que provocou forte alta dos preços de alimentos, derivados de petróleo.
Um outro ponto que contribuiu para o aumento generalizado dos preços foi o forte crescimento mundial da demanda por bens, que acontece em um momento em que as cadeias de suprimentos estão desorganizadas devido à pandemia. A consequência foram novas pressões inflacionárias na indústria. “Os custos de transporte, somados à crise hídrica e energética, também acentuam o choque de preços nas atividades industriais”, destacam os economistas.
Por fim, com o abrandamento do distanciamento social, a demanda por serviços deve voltar a crescer, adicionando mais um ingrediente de pressão na inflação. “Em nossas projeções, o aumento esperado de preços de serviços não é compensado pela desaceleração de preços de bens. Ou seja, temos uma tempestade perfeita”, afirmou a FGV.
Fenômeno monetário
O economista Milton Friedman (1912-2006), vencedor do Prêmio Nobel de Economia, estudou durante décadas os fenômenos inflacionários e é considerado uma das maiores autoridades do mundo no assunto.
Em seus artigos publicados sobre o tema, ele comprovou a relação entre a emissão de moeda e o aumento da pressão inflacionária.
“Eu quero deixar claro de uma vez por todas o fato de que a inflação é um fenômeno monetário. Nunca na história houve uma inflação que não tenha sido acompanhada por um aumento extremamente rápido na quantidade de moeda”, disse Friedman, durante uma palestra realizada no final da década de 1970.