O mês de junho registrou mais um pico da inflação argentina, chegando a 5,3%, de acordo com acordo com dados publicados na última quinta-feira (14) pelo Indec, o instituto de estatísticas do país.
Em 12 meses, alta acumulada é de 64%. Mas, consultorias já projetam que o percentual pode chegar a
90% até o fim do ano.
O valor divulgado pelo Indec vem em meio a mais um dia de protestos sendo realizados no centro de Buenos Aires, nos quais manifestantes pedem por controle dos preços e mais planos sociais por parte do governo.
No final da tarde de ontem, as manifestações se posicionaram diante do edifício do Ministério da Economia, pedindo para falar com a nova ministra, Silvina Batakis. Esta, porém, não quis recebê-los
Causas do agravamento da crise
Entre as possíveis causas para o acirramento da situação econômica do país, é possível destacar a saída de Martín Guzmán da pasta da economia, no último dia 3 de julho.
A renúncia de Gúzman se deu em meio a um enfrentamento entre o presidente Alberto Fernández e sua vice, Cristina Kirchner. Neste caso, ambos discordam sobre como encarar o momento e vinham criticando Guzmán.
O ex-ministro foi responsável pela renegociação da dívida do país com o FMI (Fundo Monetário Internacional), de US$ 44 bilhões.
A visão de Gúzman defendia o ajuste nas contas de energia e a continuação da emissão monetária, que vem sendo sendo reforçada desde o início da pandemia para subsídios e assistência social.
Por outro lado, Cristina Kirchner, vice-presidente, defende mais a emissão monetária para ajudas sociais em meio à crise, indo contra a mentalidade de Gúzman.
A parlamentar que atualmente substitui Martín Gúzman é Silvina Batakis, que já foi ministra da província de Buenos Aires e é conhecida por ter um perfil mais heterodoxo.
Porém, mesmo com sua mentalidade aparentemente distinta, a primeira mensagem que destinou à população foi de que o país não “gastaria mais do que tem” e que haveria responsabilidade fiscal.
Na última quinta (14), Batakis apertou um pouco mais o cerco ao dólar, aumentando o imposto sobre a compra da moeda estrangeira para viagens internacionais e gastos no exterior.
O que mudou no câmbio na Argentina?
Atualmente, a Argentina conta com dois tipos de câmbio para o dólar: o oficial, que permite a compra de US$1 por 125 pesos argentinos, e o paralelo, por 290 pesos.
Porém, o acesso ao dólar oficial é muito restrito. Uma pessoa pode comprar dólares a esse valor em um valor máximo de US$ 200 por mês. Desta forma, o chamado dólar “blue”, ou paralelo, tem alta procura, e isso causa inflação porque comerciantes remarcam preços tendo este valor como referência.
De acordo com a nova ministra, a nova medida está de acordo com a percepção do governo de que as viagens internacionais dos argentinos prejudicam a economia do país.
“O direito a viajar colide com a geração de postos de trabalho. O dólar é um recurso
explicou em comunicado oficial
escasso e esses dólares têm de estar à disposição da matriz produtiva”
Para ela, quando argentinos realizam compras no exterior, o setor produtivo do país é afetado negativamente.
“Todas as pessoas têm direito a férias, mas temos de administrar nossas reservas para que o país cresça. Convido os argentinos que façam turismo interno e conheçam mais nosso país”
O aumento do chamado “dólar cartão de crédito” causou preocupação nas companhias aéreas. A Câmara de Linhas Aéreas da Argentina, que agrupa empresas estrangeiras, afirmou que a decisão do governo pode impactar ainda mais o valor das passagens aéreas para os argentinos.