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“Inflação é ‘urso branco’ espreitando o tempo todo”, diz ex-diretor do Banco Central

O Brasil precisa tomar muito cuidado com os rumos da inflação e estabelecer metas adequadas para o índice oficial de preços, caso contrário poderá ter sérios problemas. Esta é a opinião de Beny Parnes, economista e sócio da SPX Capital.  

“Não podemos brincar com inflação no Brasil. Ela é o ‘urso branco’ que está nos espreitando o tempo todo”, disse Parnes, durante participação no videocast do banco Safra. O economista foi diretor de assuntos internacionais do Banco Central entre 2002 e 2003.

Ele citou o um ditado norte-americano para se referir ao problema inflacionário. Nos EUA, eles costumam dizer que se uma pessoa encontra um urso preto no seu caminho, ela consegue brigar caso precise [porque esse animal não é tão grande]. Se o urso for pardo [que tem um porte bem maior], você “se abaixa e reza”, diz. Já encontrar o urso branco, não tem jeito. “Você ‘vai para o céu’”, brinca.

“Acho que ainda não estamos lá [em relação ao processo inflacionário]. Estamos na fase do urso preto, que dá para brigar, mas é preciso tomar muito cuidado”, alerta Parnes.

Falta de previsibilidade

O sócio da SPX também criticou a falta de previsibilidade que a economia brasileira enfrenta atualmente. Ele fez um paralelo com o início dos anos 1990, quando a economia do país era marcada por uma inflação muito alta e por muitas incertezas.

“Em 1992, na época do [ex-presidente Fernando] Collor, o Brasil era um país de 30 dias [referindo-se à pouca previsibilidade e à necessidade de produtos de curto prazo do mercado financeiro]”, afirma.

Pouco depois, ele lembra que foi instituído o Plano Real e o mercado passou a ter mais previsibilidade e segurança.  “O ministro [da Fazenda] Pedro Malan reorganizou o mercado de dívida doméstica e negociou a dívida externa. Começamos a expandir nossos horizontes. O país foi muito bem-sucedido neste processo, nos dois governos do Fernando Henrique e no início primeiro governo do Lula. Depois a coisa começou a complicar, mas dentro de um arcabouço que ainda dava para entender”, diz.

“Mas o fato é o seguinte: o Brasil está “encurtando” de novo [essa previsibilidade]. O horizonte de previsão do Brasil está voltando a encurtar”, continua Parnes.

Para o economista, isso acontece porque as incertezas em relação à política econômica estão aumentando consideravelmente.

 “O país está “desencaixado” política e economicamente. As fraquezas são as seguintes: hoje o juro real está muito alto para combater a inflação e tem um ruído político que está afetando demais a política econômica. Então a gente não consegue prever”, critica.

Além disso, ele cita a falta de uma âncora fiscal. “Abandonamos o teto de gastos lá atrás, durante a pandemia, mas não fizemos tentativas de colocar uma regra. O Ministro Fernando Haddad está tentando trabalhar neste sentido, mas parece encontrar dificuldades políticas”, destaca.

Ele também rechaça as falas do presidente Lula em relação à atuação do Banco Central. “As críticas [do governo] ao Banco Central são extremamente autodestrutivas. É como se fosse um ‘vício malígno’. Só vai prejudicar a quem o pratica”.

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