A guerra entre Rússia e Ucrânia, que se encaminha para completar um mês esta semana, vem intensificando o choque inflacionário em todo o mundo. Em relatório divulgado esta semana, os economistas da FGV (Fundação Getulio Vargas) apontaram as consequências do conflito na economia global.
“A guerra na Ucrânia aumentou ainda mais as incertezas sobre os cenários prospectivos internacional e doméstico”, apontam Armando Castelar Pinheiro e Silvia Matos, economistas da entidade.
Eles lembraram que a Rússia é um dos principais produtores e exportadores de commodities, incluindo petróleo, gás natural, trigo, milho e fertilizantes do mundo. Com a guerra, diversas sanções foram impostas por governos ocidentais, o que contribuiu para reduzir ainda mais a oferta desses produtos e para elevar seus preços.
Um dos maiores efeitos foi verificado no preço do barril do petróleo tipo Brent, que atingiu um pico de US$ 139 no dia 7 de março, já que a Rússia responde por cerca de 10% da produção e do comércio globais do produto.
De acordo com os economistas, mesmo com o recuo do Brent para um nível em torno de US$ 100 por barril nas últimas semanas, a expectativa é que o preço se mantenha em níveis elevados, pressionado pela forte demanda e pelas restrições de oferta.
No mercado de commodities agrícolas, os preços também subiram de forma expressiva, já que a Rússia e a Ucrânia são responsáveis por aproximadamente 20% das exportações globais de milho e por cerca de 30% das de trigo.
Os economistas da FGV apontam que esse choque ocorre em um em que problemas climáticos afetam as previsões para as safras da América do Sul.
“ Para tornar as perspectivas ainda mais preocupantes, temos nova rodada de alta nos custos de insumos, com o aumento dos preços de combustíveis e de fertilizantes”, afirmam.
Como a Rússia é uma das principais exportadoras de fertilizantes do mundo, o risco de escassez do produto no Brasil aumentou e o cenário de aumento de preços de alimentos se consolidou, trazendo riscos altos para a safra de 2022/23
Com todos estes impactos no radar, os economistas afirmam que os efeitos da guerra sobre o crescimento mundial podem até ser atenuados, “mas o impacto inflacionário já é latente”.
“Agora é torcer para que as notícias que tivemos nos últimos dias, de um possível cessar-fogo na Ucrânia, se confirmem, o que pode aliviar o impacto negativo do conflito nas perspectivas de crescimento mundial, em especial na Europa”, afirma o relatório.