No relatório “Global Risks 2023”, publicado nesta quarta-feira (11), o Fórum Econômico Mundial destaca que, entre os principais riscos, estão uma eventual piora da economia, com aumento no custo de vida, um “hiato” nas medidas para conter as mudanças climáticas e a polarização social.
O relatório aponta que o retorno a um “novo normal” após a pandemia de Covid-19 foi “rapidamente interrompido pela eclosão da guerra na Ucrânia, dando início a uma nova série de crises de alimentos e energia”.
O início de 2023 é marcado por uma série de riscos, classificados pelo Fórum como “totalmente novos e estranhamente familiares”.
Vimos um retorno de riscos ‘antigos’ – inflação, crises de custo de vida, guerras comerciais, saídas de capital de mercados emergentes, agitação social generalizada, confronto geopolítico e o espectro da guerra nuclear – que poucos líderes empresariais e formuladores de políticas públicas têm experimentado.
afirma um trecho do relatório
Este riscos estão sendo amplificados por desenvolvimentos comparativamente novos no cenário de riscos globais, como níveis insustentáveis de dívida, nova era de baixo crescimento, baixo investimento global e desglobalização, declínio no desenvolvimento humano, desenvolvimento rápido e irrestrito de tecnologias de uso duplo (civil e militar), crescente pressão dos impactos e ambições das mudanças climáticas.
O resultado é: a criação de uma “década única, incerta e turbulenta”.
O relatório “Global Risks 2023” concentra os resultados da última Pesquisa de Percepção de Riscos Globais (GRPS).
Dividido em três capítulos, aborda três prazos para entender os riscos globais. Entre os temas aprofundados, estão:
- crescente impacto das crises atuais;
- seleção de riscos que provavelmente serão mais graves no longo prazo;
- como as conexões entre os riscos emergentes podem evoluir para uma “policrise” centrada na escassez de recursos naturais até 2030.
Principais projeções e considerações
Aumento do custo de vida e fracasso da ação climática na próxima década
O relatório do Fórum Econômico Mundial apontou que os próximos 10 anos serão marcados “por crises ambientais e sociais, impulsionadas por tendências geopolíticas e econômicas subjacentes”.
Nos próximos dois anos, o risco global mais grave é a “crise do custo de vida”.
Já na década seguinte, os temas destacados foram:
- Perda de biodiversidade e colapso do ecossistema;
- Confronto geoeconômico;
- Erosão da coesão social e polarização social;
- Crime cibernético generalizado e insegurança cibernética;
- Migração involuntária em larga escala.
Risco de estagnação, divergência e angústia
De acordo com o estudo, a pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia causaram uma “inflação vertiginosa, rápida normalização das políticas monetárias e iniciaram uma era de baixo crescimento e baixo investimento”.
Nos próximos dois anos, o Fórum projeta que governos e bancos centrais estejam prováveis a enfrentar pressões inflacionárias.
Os riscos negativos para as perspectivas econômicas também são grandes. Um desequilíbrio entre as políticas monetária e fiscal aumentará a probabilidade de choques de liquidez, sinalizando uma desaceleração econômica mais prolongada e sobre endividamento em escala global.
O endividamento generalizado nos próximos 10 anos será influenciado pela fragmentação econômica global, pelas tensões geopolíticas e pela reestruturação mais difícil.
O relatório pondera que, “mesmo que algumas economias experimentem uma aterrissagem econômica mais suave do que o esperado, o fim da era das taxas de juros baixas terá ramificações significativas para governos, empresas e indivíduos”.
Fragmentação geopolítica
Em seguida, o relatório aborda como a fragmentação geopolítica impulsionará a guerra geoeconômica e aumentará o risco de conflitos em vários domínios.
A guerra econômica está se tornando a norma, com confrontos crescentes entre as potências globais e a intervenção estatal nos mercados nos próximos dois anos. As políticas econômicas serão usadas defensivamente, para construir autossuficiência e soberania de potências rivais, mas também serão cada vez mais implantadas ofensivamente para restringir a ascensão de outros.
A projeção é de que, à medida que a geopolítica supera a economia, um aumento de longo prazo na produção ineficiente e no aumento dos preços torna-se mais provável.
Fontes entrevistadas pela última Pesquisa de Percepção de Riscos Globais (GRPS) consideram que os confrontos interestaduais permanecerão em grande parte de natureza econômica nos próximos 10 anos.
Porém, “o recente aumento nos gastos militares e a proliferação de novas tecnologias para uma gama mais ampla de atores podem levar a uma corrida armamentista global em tecnologias emergentes”.
Tecnologia exacerbando desigualdades
O Fórum Econômico Mundial considera que o setor de tecnologia estará entre os alvos centrais de políticas industriais mais fortes e maior intervenção estatal.
A pesquisa e desenvolvimento de tecnologias emergentes continuarão em ritmo acelerado na próxima década, gerando avanços em IA (Inteligência Artificial), computação quântica e biotecnologia.
Para aqueles que podem investir no setor, essas tecnologias fornecerão soluções parciais para uma série de crises emergentes. Mas, para aqueles que não possuem estrutura para isso, a a desigualdade e a divergência crescerão.
Juntamente com o aumento do crime cibernético, as tentativas de interromper recursos e serviços habilitados para tecnologia crítica se tornarão mais comuns, com ataques previstos contra agricultura e água, sistemas financeiros, segurança pública, transporte, energia e infraestrutura de comunicação doméstica, espacial e submarina.
Esforços de mitigação e adaptação climática
Na próxima década, o foco central das percepções de riscos globais será os riscos climáticos. E, segundo o relatório, estes são os riscos que parecemos estar menos preparados.
A falta de um progresso profundo e coordenado nas metas de ação climática expôs a divergência entre o que é cientificamente necessário para atingir o zero líquido e o que é politicamente viável
Caso não ocorra mudanças políticas ou investimentos significativos, a interação entre os impactos das mudanças climáticas, a perda de biodiversidade, a segurança alimentar e o consumo de recursos naturais acelerará o colapso do ecossistema, ameaçará o suprimento de alimentos e os meios de subsistência em economias vulneráveis ao clima, amplificará os impactos dos desastres naturais e limitará o progresso futuro sobre mitigação climática.
Crise de alimentos, combustível e custos
Considerando os riscos mais graves que devem ser sentido em 2023 – crise e de abastecimento de energia, aumento da inflação e crise de abastecimento de alimentos – uma crise global de custo de vida já está sendo sentida.
As pressões contínuas do lado da oferta correm o risco de transformar a atual crise do custo de vida em uma crise humanitária mais ampla nos próximos dois anos em muitos mercados dependentes de importações.
No campo da política, o relatório diz que a eleição de líderes menos centristas, juntamente com a polarização política entre as superpotências econômicas nos próximos dois anos, também podem reduzir ainda mais o espaço para a resolução coletiva de problemas, fraturando alianças e levando a uma dinâmica mais volátil.
Com uma crise no financiamento do setor público e preocupações de segurança concorrentes, nossa capacidade de absorver o próximo choque global está diminuindo. Nos próximos 10 anos, menos países terão margem fiscal para investir em crescimento futuro, tecnologias verdes, educação, assistência e sistemas de saúde.
Risco de “policrises”
Segundo o Fórum, choques simultâneos, riscos profundamente interconectados e erosão da resiliência estão dando origem ao risco de policrises.
As policrises consistem em crises díspares que interagem de tal forma que o impacto geral excede em muito a soma de cada parte.
A erosão da cooperação geopolítica terá efeitos em cascata no cenário de riscos globais no médio prazo, inclusive contribuindo para uma potencial policrise de riscos ambientais, geopolíticos e socioeconômicos inter-relacionados relacionados à oferta e demanda de recursos naturais.
Mais de quatro em cada cinco entrevistados do GRPS antecipam uma volatilidade consistente nos próximos dois anos, no mínimo, com choques múltiplos acentuando trajetórias divergentes.
Porém, se mostraram mais otimistas no longo prazo, de forma que pouco mais da metade dos entrevistados antecipa uma perspectiva negativa, e quase um em cada cinco entrevistados prevê volatilidade limitada com estabilidade relativa – e potencialmente renovada – nos próximos 10 anos.
Alguns dos riscos descritos no relatório deste ano estão próximos de um ponto crítico. Este é o momento de agir de forma coletiva, decisiva e com uma visão de longo prazo para traçar um caminho para um mundo mais positivo, inclusivo e estável.
finaliza o relatório
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