A semana entre os dias 12 e 18 de março foi marcada por uma série de instabilidades no mercado financeiro. Entre falências, anúncios de resgate e alta volatilidade, o Bitcoin (BTC) registrou sua melhor semana do ano em termos de valorização.
De acordo com o site Coinglass, o preço da criptomoeda fechou a semana em alta de 26,89%. Além disso, este é o melhor desempenho do BTC no período semanal em dois anos. Como resultado, o preço da criptomoeda fechou pouco acima dos US$ 28 mil e, no Brasil, chegou a superar a barreira dos R$ 150 mil.
Mas o que será que levou o BTC, bem como outras criptomoedas, a registrarem valorizações tão expressivas em meio a uma crise? Foram pelo menos duas razões: a nova expansão monetária nos Estados Unidos e a queda dos juros futuros – algo que também beneficiou o ouro. No texto de hoje vamos acompanhar cada um desses eventos e entender sua relação com o BTC.
Fed e US$ 300 bilhões em ajuda
Na semana passada, o banco central dos EUA divulgou o seu balanço anual de ativos e passivos. De acordo com o balanço, houve uma inclusão de US$ 297 bilhões em ativos, ou seja, dinheiro emitido pelo Fed.
Este valor corresponde justamente a um pacote de ajuda criado pelo banco para tentar conter a crise financeira. Depois da liquidação do Silicon Valley Bank (SVB), o contágio se espalhou para outros bancos. O First Republic Bank, por exemplo, também revelou problemas de liquidez, e este é um dos 20 maiores bancos do país.
De acordo com estimativas, existem pelo menos 186 bancos de médio porte nos EUA que podem enfrentar problemas de liquidez. Isso acontece porque o sistema bancário possui um forte descasamento de prazos, isto é, os prazos de seus ativos é muito mais longo do que dos seus passivos.
O descasamento
Os ativos de um banco consistem, em linhas gerais, em investimentos de longo prazo, como títulos do Tesouro dos EUA. Só que muitos desses títulos foram comprados quando os juros estavam num patamar muito baixo, até próximo de zero.
Agora, com os juros próximos de 5%, o valor dos títulos em posse dos bancos caiu vertiginosamente. Isso não seria um problema caso o banco levasse o título até o final do vencimento, pois ele receberia o valor total mais os juros. O problema é que os passivos dos bancos são os depósitos dos clientes, que estes podem requisitar a qualquer momento.
Quando os clientes souberam dos problemas do SVB, começaram a pedir saques e transferir seus fundos para outras instituições. Para honrar os compromissos, o banco precisou vender os títulos ao preço de mercado, auferindo um forte prejuízo. E isso fez o SVB ficar sem liquidez para honrar com todos os saques.
O pacote do Fed, por sua vez, tem o objetivo de fornecer liquidez ao banco. E sempre que o Fed imprime dinheiro, o BTC tende a se valorizar, dada a sua natureza escassa e, pelo menos até o momento, anticíclica. O mesmo aconteceu em 2020, quando os pacotes de socorro fizeram o BTC quebrar suas máximas históricas.
A queda dos juros
O segundo fator que levou o BTC a se valorizar foi a forte queda nos juros futuros dos EUA, que indicam a tendência de caminho da taxa de juros. Antes da crise do SVB, os juros futuros estavam em alta e todo o mercado apostava que o Fed aumentaria a taxa de juros em 50 pontos-base (0,5%) na reunião desta quarta-feira (22).
Contudo, a crise do banco e o pacote de ajuda fizeram parte do mercado apostar que o Fed poderá cortar os juros, visando evitar uma crise. De fato, as taxas de juros futuros, que estavam acima de 4%, caíram para cerca de 3,7%.
Expectativas de cortes de juros tendem a beneficiar ativos de risco, como o BTC, e ativos reais, como o ouro. Quando os juros dos títulos caem, os investidores precisam correr mais risco para buscar retornos elevados. Além disso, os juros mais baixos estimulam as empresas a tomar mais empréstimos e, ao mesmo tempo, estimula o Fed a emitir mais moeda.
No entanto, cabe ressaltar que toda essa nova emissão de crédito não necessariamente vai causar inflação de preços. Se os bancos mantiverem esse dinheiro em suas reservas e não emprestarem, o dinheiro não circula na economia. Logo, não deve haver inflação de preços como houve em 2021/22, quando o dinheiro emitido pelo Fed caiu diretamente nas mãos das pessoas.
Em suma, a valorização do BTC ocorreu por causa de fatores macroeconômicos e da expectativa de como será a resposta do Fed a esses fatores. Caso essas respostas se concretizem, o preço do BTC deve voltar a registrar fortes valorizações.