Desde o surgimento desta coluna, o foco dos textos sempre foi o Bitcoin (BTC) e a sua tecnologia. No entanto, o mercado de criptomoedas conta com mais 23.772 criptomoedas e tokens diferentes, de modo que hoje daremos espaço a uma delas, e uma das mais importantes: o Ethereum.
Criado em 2015 por Joseph Lubin e Vitalik Buterin, o Ethereum surgiu com uma proposta diferente da trazida pelo Bitcoin de Satoshi Nakamoto. No entanto, muitas pessoas ainda enxergam as duas como concorrentes, inclusive com especulações do tipo “será que o Ethereum vai ultrapassar o Bitcoin em valor de mercado?”
Não está no escopo deste texto falar apenas sobre essas especulações. Ao invés disso, você conhecerá a história do Ethereum e de seu token, o Ether (ETH), através de curiosidades e fatos envolvendo a criação da rede e seu desenvolvimento. E, com isso, entenderá as diferenças e semelhanças entre ambos.
O Ethereum surgiu das limitações do Bitcoin
Poucas pessoas sabem, mas Vitalik Buterin começou a se envolver com criptomoedas bem antes de criar o Ethereum. Considerado um gênio da computação desde muito novo, Buterin conheceu o Bitcoin poucos anos depois que a criptomoeda surgiu – e ficou impressionado com a obra de Satoshi.
Curiosamente, Buterin criou uma das revistas mais importantes para o Bitcoin: a Bitcoin Magazine, criada em 2014 e que existe até hoje. Foi ele quem analisou o código da criptomoeda e percebeu uma série de coisas que ele considerou como “limitações”.
Por exemplo, Buterin percebeu que o Bitcoin era extremamente eficiente como uma ferramenta de transferência de valores e como uma reserva de valor. Mas a blockchain do Bitcoin era muito limitada para outras aplicações, como a construção de aplicativos ou de ferramentas.
Por outro lado, os mecanismos que permitiam a expansão do Bitcoin (as sidechains) ainda eram rudimentares e não conseguiam cumprir essa tarefa. Por isso que Buterin decidiu abandonar suas contribuições para o Bitcoin e criar sua própria blockchain, que veio ao mundo em 2015.
Uma “cópia” da rede original
Durante cerca de um ano, o Ethereum foi “exclusivo” no mercado, mas essa situação mudou em junho de 2016. Isso porque um grupo de desenvolvedores tinha como objetivo construir uma Organização Autônoma Descentralizada (DAO) no Ethereum, que funcionaria totalmente independente.
Na época, termos como DAO e contratos inteligentes ainda eram novidade, por isso a organização recebeu o nome de The DAO. Uma vez lançada, a DAO operaria com base nos protocolos do contrato, sem nenhuma intervenção humana. Seria, na visão dos desenvolvedores, o ápice da descentralização.
Só que poucas semanas após seu lançamento, a DAO sofreu um ataque: um hacker conseguiu explorar uma brecha no contrato e roubar os fundos. No total, a invasão resultou na perda de US$ 150 milhões.
Para solucionar esse problema, os principais desenvolvedores do Ethereum sugeriram apagar o histórico da DAO e “recomeçar” a rede como se nada tivesse acontecido. Mas outra parte foi contra essa decisão, alegando que ela representava uma intervenção humana inaceitável na blockchain.
Como resultado do impasse, a rede Ethereum se dividiu em duas. A rede original manteve o histórico do ataque da DAO e recebeu o nome de Ethereum Classic, enquanto a nova rede recomeçou do zero e manteve o nome Ethereum.
Sim, o Ethereum atual não é a rede original, mas sim uma nova rede resultante dessa divisão. Só que os principais nomes, incluindo o próprio Buterin, adotaram o novo Ethereum, o que fez a rede suplantar o Ethereum Classic e virar o que hoje é a segunda maior blockchain do mundo.
Oferta em queda, mas não ilimitada
Durante muito tempo, os entusiastas do Ethereum colocavam o ETH como um rival do BTC no que se refere a virar uma moeda. No entanto, a verdadeira função do Ethereum é ser um computador descentralizado que permite que desenvolvedores possam criar seus projetos e tokens.
Por isso, o ETH não tem uma oferta limitada de tokens. Ao contrário do BTC, que possui apenas 21 milhões, a oferta de ETH está sempre crescendo. De acordo com o CoinMarketCap, existem cerca de 120 milhões de ETH em circulação, mais de 10 vezes a quantidade de BTC em circulação (19 milhões).
Em 2021, a rede recebeu uma proposta de melhoria, conhecida como EIP, que ganhou o nome de EIP 1559. A proposta determinava que parte das taxas cobradas nas transações com ETH seriam queimadas, ou seja, os ETH deixariam de existir. O objetivo da medida era diminuir a oferta de ETH e, com isso, reduzir a “inflação” do token.
De fato, o total de ETH em circulação cresceu a um ritmo menos acelerado ao longo dos últimos dois anos, o que significa que a inflação diminui. Mas o ETH não se tornou um token de oferta limitada como o BTC, de modo que nesse sentido ele não representa qualquer ameaça ou concorrência.
Cheio de atualizações e camadas
Com o objetivo de trazer melhorias, o Ethereum possui uma série de camadas subjacentes. Estas camadas permitem que a rede consiga processar transações mais rapidamente ou com taxas menores, o que expande o seu uso.
A operação ocorre em segundas camadas para evitar que erros possam afetar a rede principal do Ethereum. De certa forma, elas funcionam como as sidechains do Bitcoin, só que as segundas camadas do Ethereum também possuem seus próprios tokens.
Hoje em dia, as maiores camadas desse tipo são a Optimism e a Arbitrum, que processam várias transações com maior velocidade e menor custo. Essas camadas permitem que projetos menores consigam utilizar a segurança do Ethereum sem ter que aumentar os seus custos para compensar o alto preço da rede principal.
Em suma, o Ethereum não surgiu para ser uma moeda ou uma reserva de valor, mas sim para fornecer um protocolo base para a construção de vários projetos em blockchain. E o sucesso em conquistar essas metas colocou a rede no merecido lugar entre as maiores blockchains do mundo.