A política de tolerância zero à covid-19 adotada pela China vem impactando a cadeia de suprimentos global por conta das restrições impostas pelo governo nos últimos meses.
Diferentemente de outros países do mundo, a China decidiu isolar e fazer lockdowns em cidades inteiras cada vez que um novo surto da doença é detectado – independentemente da quantidade de hospitalizações ou mortes, por exemplo.
Bairros inteiros estão com severa restrição de mobilidade em cidades como Xangai e Pequim. Escolas, academias, cabeleireiros, parques, restaurantes e bares foram fechados e milhões foram instruídas a trabalharem de casa.
Com isso, o mundo vem discutindo os efeitos sobre a economia global, bastante dependente de produtos chineses.
“A conjuntura externa sofreu também uma nova rodada de deterioração devido ao aumento das preocupações em relação ao crescimento global em meio a volta da política de covid zero na China e seus impactos nas cadeias produtivas”, destacaram os gestores da ARX Investimentos, em carta enviada aos cotistas dos fundos.
A falta de insumos no mercado pode provocar um choque de oferta, afetando os preços e provocando um aumento de inflação.
Em relatório divulgado recentemente, o banco suíço Julios Baer pontuou que algumas interrupções nas cadeias globais de suprimentos globais são inevitáveis.
O banco citou como exemplo o setor de automóveis e autopeças, além do comércio eletrônico e serviços de entrega.
De acordo com estudos do economista e professor da Universidade de Pequim, Xu Jianguo, o impacto econômico do mais recente surto de coronavírus na China pode ser mais de 10 vezes maior do que a onda inicial em Wuhan em 2020,
Segundo Jianguo, o prejuízo causado pelas interrupções na atividade econômica chega a 18 bilhões de yuans e afeta 160 milhões de pessoas.
Já o surto inicial em Wuhan, no começo de 2020, causou prejuízos de 1,7 bilhão de yuans e afetou 13 milhões de pessoas.
“A gravidade dos surtos neste ano é mais de dez vezes superior à de 2020 em termos da população afetada e do custo econômico”, disse o economista.
Segundo especialistas, uma das desvantagens desse tipo de medida adotada pela China desde 2020 é o fato do nível de anticorpos da população ser mais baixo, devido à baixa exposição ao vírus durante estes últimos anos.
Com isso, as variantes da doença podem se espalhar muito mais facilmente do que em países onde já houve uma exposição prévia mais alta ao vírus.
Como resultado, economistas se perguntam por quanto tempo o mundo terá que conviver com os constantes lockdowns na China, já que o risco de novos surtos no país é mais elevado do que em outras nações que já conviveram há mais tempo com a doença entre a sua população.