A forte alta na inflação tem efeito direto no consumo das famílias. Com preços cada vez mais caros, a tendência é que as pessoas passem comprar menos coisas para que a conta feche no final do mês.
Essa situação pode ser comprovada por meio da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em agosto, o volume de vendas do comércio varejista no país recuou 3,1%, na comparação com o mês anterior.
“Hiper e supermercados, assim como combustíveis e lubrificantes, vêm sendo impactados pela escalada da inflação nos últimos meses, o que diminui o ímpeto de consumo das famílias e empresas. A receita nominal de hiper e supermercados ficou perto de zero (0,3%) e a de combustíveis recuou 0,7%. Houve efetivamente um gasto menor das famílias na passagem de julho para agosto”, afirma o gerente da PMC, Cristiano Santos.
Economistas apontam que a injeção de recursos de forma sistemática na economia – principalmente nos últimos 18 meses -contribuiu para a forte aceleração dos índices de preços.
Isso porque a inflação é um fenômeno monetário, que acontece quando a oferta de moeda na economia aumenta sem que a quantidade de produtos e serviços cresça na mesma proporção.
Com mais dinheiro circulando, as pessoas passam a consumir mais, só que não há produtos e serviços suficientes para atender a todos. Os preços então começam a subir, provocando a inflação.
Este aumento generalizado de preços na economia impacta diretamente as pessoas mais pobres, que sentem na pele a dificuldade de comprar produtos básicos e precisam consumir menos.
Um exemplo disso é o preço do botijão do gás, que disparou mais de 50% em algumas cidades e é comercializado a mais de R$ 100 em boa parte do país.
Para uma família com renda de R$ 20 mil por mês, um botijão de gás representa 0,5% da renda total. Já para uma família que ganha um salário mínimo, comprar um botijão de gás afeta quase 10% de toda a renda da casa.
“A inflação de preços é um dos mecanismos mais nefastos de concentração de renda que existem. Ela atinge principalmente as classes menos favorecidas que não têm como se proteger”, afirma Richard Rytenband, economista e CEO da Convex Research.
Maior parte das atividades tiverem queda nas vendas
De acordo com o IBGE, seis das oito atividades pesquisadas registraram queda de volume de vendas no mês de agosto, com destaque para outros artigos de uso pessoal e doméstico (-16,0%), que teve a principal influência negativa sobre o indicador do comércio varejista. Essa atividade é composta, por exemplo, pelas grandes lojas de departamento.
Também recuaram no período os setores de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-4,7%), combustíveis e lubrificantes (-2,4%), móveis e eletrodomésticos (-1,3%), livros, jornais, revistas e papelaria (-1,0%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,9%).