A busca por ativos tangíveis – como ouro, prata e outras commodities – deve acelerar nos próximos anos e impulsionar o preço destes ativos, na opinião de Tavi Costa, portfolio manager da Crescat Capital, gestora de recursos gestora de recursos com sede em Denver (EUA).
Na última quarta-feira (10), durante participação no programa Smart Money, da Convex Research, Tavi falou sobre sua visão para as principais commodities e também traçou um panorama macroeconômico dos EUA.
Leia abaixo uma parte da entrevista: (o vídeo com a entrevista completa está no final do artigo)
O Gás natural subiu 91%, petróleo avançou 63%, café (+60%), algodão (+53%), açúcar (+27%) e carvão (96%). Estamos diante do superciclo das commodities?
Acredito que sim. Notamos um excesso de capital entrando principalmente em duas partes do mercado. A primeira é o de empresas de tecnologia na Bolsa. Se você observar o gráfico da Nasdaq, percebe que ali entrou uma boa parte deste capital. Outra parte deste capital entrou principalmente nos mercados de renda fixa. Acho que atingimos um extremo [de alocação] nessas duas classes de ativos.
Entendo que agora deve ser o começo de uma rotação, onde grandes alocadores vão começar a olhar para os ativos tangíveis.
Quais são os momentos na história que você deve investir nesse tipo de ativo? Quando existe uma falta de alternativas de investimentos que consigam obter retornos acima da inflação.
Quando olhamos qualquer índice acionário dos EUA, me parece claro que praticamente todos os setores da economia têm retorno menor que a inflação.
Isso vai lentamente aumentando o custo de capital e faz com que os alocadores priorizem principalmente a lucratividade de modelos de negócios.
Quando observamos modelos de negócios que estão dentro da indústria de recursos naturais, como petróleo, cobre, ouro ou prata, percebemos que a lucratividade destá muito acima do que outros setores da economia. Isso vai gerar uma alocação maior do que vimos no passado e causar um ciclo mais duradouro de ativos como commodities.
Gostamos de ouro, prata, cobre e até mesmo petróleo e commodities agrícolas.
Estamos vivendo um momento de desaceleração econômica global. O que pode explicar a alta do preço das commodities? Seria algo do lado da demanda, com os estímulos dos Bancos Centrais, ou algo pelo lado da oferta?
Não vejo o lado da demanda como uma força duradoura, principalmente por não ser orgânica. Essa demanda cai dentro do pilar inflacionário, que se chama transferência de riqueza do governo para a população, que vemos principalmente nos EUA e países desenvolvidos. Isso acho que vai continuar.
Outro ponto tem a ver com o ciclo de Capex (investimenros) dentro do mercado de commodities. Inevitavelmente teríamos esse problema de escassez de matéria prima. A pandemia acabou acelerando esse problema, mas também existe a pressão para que as empresas invistam cada vez menos em projetos de exploração, como minas de cobre.
Tudo isso mexe com o mercado de commodities. Esse mercado não precisa necessariamente de um crescimento orgânico para gerar um ciclo. Na verdade o que precisamos é realmente deste desequilíbrio sobre demanda e oferta.
Acho que o próximo “dominó a cair” serão os preços de alimentos. Isso não está precificado no mercado de commodities agrícolas. Isso vai gerar um efeito inflacionário que será muito mais duradouro do que os políticos estão planejando.
Onde você vê as principais assimetrias no mercado de commodities?
Acho impressionante o que estamos vendo nos metais preciosos. Os múltiplos das empresas [exploradoras] poderiam indicar que elas iriam falir nos próximos anos. Mas claro que eu tenho uma opinião completamente diferente disso. Hoje encontramos empresas com múltiplos de 2, 3, 4 vezes o seu fluxo de caixa anual. Isso não existe em uma indústria. Acho que é um excesso de sentimento negativo dentro dessa indústria.
Quando olho em geral, gosto muito da exposição à prata. Economicamente existem vários projetos interessantes. Dentro do mundo de produção, essas empresas estão extremamente baratas. Estão começando a construir um balanço de caixa líquido que não víamos a muito tempo. São empresas que acumularam muita dívida, mas que agora estão pagando todo esse débito de forma significativa.
Provavelmente em 2 anos essas empresas vão estar “nadando” em caixa, em busca de novos projetos de exploração para continuar essa produção que foi estabelecida há alguns anos. Temos cerca de 95 ativos no portfólio que são propriedades em que acreditamos que há muito ouro e prata.
Existem muitas empresas [de exploração] com múltiplos historicamente baixos. É ai que está a oportunidade. Comprar algo que vale 15 a 20 vezes o valor que você está comprando hoje.
Assista à entrevista completa: