A Selic (Taxa básica de juros) encerrou o ano passado em 9,25% ao ano, depois de subir mais de 7 pontos percentuais em cerca de nove meses. Em março de 2021, a taxa básica estava na sua mínima histórica de 2% a.a., mas o nível era considerado demasiadamente baixo e artificial por especialistas.
Com a Selic na mínima, a inflação já dava sinais de descontrole há um bom tempo, até que o Banco Central decidiu iniciar o ciclo de aperto monetário e elevar os juros para tentar conter o avanço dos preços.
Após o aumento da taxa, muitos investidores ficam com a falsa sensação de que estão ganhando muito com as aplicações de renda fixa pós-fixadas, que são atreladas à taxa básica de juros. Mas é preciso ter cuidado com essa afirmação, já que a maneira correta de analisar a Selic é considerando a inflação de preços.
“Caso contrário, estamos sujeitos a chamada ilusão monetária”, explica Richard Rytenband, economista e CEO da Convex Research.
A explicação é simples. Imagine que a Selic esteja em 20% ao ano. Aparentemente é uma excelente oportunidade de ganhar muito com a renda fixa pós-fixada, certo? Agora coloque nesta conta uma inflação de 25% ao ano.
Neste caso, o ganho do investidor com uma aplicação de renda fixa terá sido inferior à corrosão do seu dinheiro pela inflação de preços. Ou seja, o seu ganho real foi negativo.
De acordo com Rytenband, o cálculo pode ser feito de forma ex-post, considerando a inflação do período, ou ex-ante – a mais comum e através das expectativas inflacionárias.
Quem utiliza a forma ex-ante normalmente avalia o sistema de expectativas de mercado – horizonte móvel de 12 meses à frente, segundo o economista.
Ele destaca que as perspectivas inflacionárias aumentaram e forma acentuada no país, algo que vinha sendo alertado em suas análises há bastante tempo.
“Tanto isso, quanto os breakevens (inflação implícita) tiveram grandes variações em pouco tempo. Demorou até cair a ficha da tempestade perfeita para a inflação. Agora parece óbvio, mas eu tive que utilizar até a metáfora do pote de catchup para mostrar como tinha um tempo até aparecer a inflação, mas depois ela viria de uma vez só”, diz o economista.
A metáfora se refere ao pote do condimento, que algumas vezes demora para sair, mas quando a pessoa aperta muito ele pode vazar de uma vez só.
A inflação no Brasil
Após uma alta de 0,73% em dezembro, a inflação medida pelo IPCA (Índice Preços ao Consumidor Amplo) fechou o ano de 2021 com um aumento de 10,06%.
Essa é a maior taxa acumulada no ano desde 2015, quando foi de 10,67%, e extrapolou a meta de 3,75% definida pelo Conselho Monetário Nacional para 2021, cujo teto era de 5,25%.
O IPCA é considerado o índice oficial de inflação do país, mas existem outros indicadores que tiveram uma alta ainda mais acentuada.
É o caso do IGP-M, calculado pela FGV (Fundação Getulio Vargas), que subiu 0,87% em dezembro, acumulando alta de 17,78% em 12 meses.
Com a inflação nestes níveis, o investidor de renda fixa pós-fixada teve um retorno real negativo, já que o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) acumulado em 2021 foi de apenas 4,35%.
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