O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central encerrou sua última reunião de 2021 nesta quarta-feira (8) e decidiu aumentar a Selic em 1,5 ponto percentual para 9,25% ao ano.
Esta é a sétima elevação consecutiva da taxa básica de juros do país, que em março deste ano estava na sua mínima histórica de apenas 2% ao ano.
A Selic artificialmente baixa e a enxurrada de dinheiro despejado na economia desde março do ano passado, na tentativa de conter a crise provocada pela pandemia de Covid-19, não poderiam ter outro efeito senão a alta generalizada dos preços.
No acumulado dos últimos doze meses, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial do país, atingiu 10,67%, o maior valor desde janeiro de 2016.
Já o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), que captura melhor a inflação no atacado, registra variação de 17,89% nos últimos 12 meses encerrados em novembro.
“Taxas de juros artificialmente baixas incentivam o endividamento, permitem a aceitação de projetos que em condições normais não seriam aceitos e distorce a precificação de ativos. Em resumo, ela emite sinais equivocados para a sociedade e o ajuste posterior é sempre doloroso”, afirma Richard Rytenband, economista e CEO da Convex Research.
Mas a elevação de 1,5 ponto percentual desta última reunião pode não ser suficiente para conter a força da inflação no país.
Muitos especialistas vêm criticando o BC pelas atitudes “atrasadas” de política monetária, que contribuem para manter o cenário de pressão inflacionária. Para alguns economistas, inclusive, a taxa deveria ter sido elevada em 2 pontos percentuais, para 9,75%.
Segundo o Boletim Focus, que reúne as projeções de analistas do mercado financeiro, a estimativa da inflação para 2021 é de 10,18%. O número representa mais que o dobro do teto da meta do BC, de 5,25% para o IPCA.
Lembranças da hiperinflação brasileira
A recente pressão inflacionária trouxe lembranças nada agradáveis para os brasileiros que conviveram com a hiperinflação antes do Plano Real.
Isso porque o descontrole generalizado dos índices de preços assombrou o Brasil durantes décadas e até hoje é responsável por uma série de comportamentos presentes no subconsciente dos brasileiros, como a dificuldade de poupar e a necessidade de consumir imediatamente pelo receio de que os produtos fiquem mais caros.
Entre a década de 1970 e o início dos anos 1990, o país viveu a chamada hiperfinflação, que chegou a mais de 6.000% em um único ano.
Naquela época os preços mudavam diariamente e as pessoas precisavam correr para as lojas e supermercados antes que os produtos ficassem mais caros.
A inflação era tão alta que a moeda nacional acabou perdendo a sua característica de referência de valor e passou a ser rejeitada pela população. Era comum que imóveis e veículos, por exemplo, fossem anunciados em classificados com preço em dólar, uma moeda forte que não perdia valor de um dia para o outro.