O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial do país, ficou em 0,23% no mês de maio, 0,38 ponto percentual (p.p.) abaixo da taxa de 0,61% registrada em abril. Em 2023, a alta acumulada do IPCA foi de 2,95%. Já nos últimos 12 meses, o índice está em 3,94%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com a desaceleração do IPCA, os juros reais no país (a taxa Selic descontada a inflação) atingiram 8,75%, de acordo com o economista Richard Rytenband, CEO da Convex Research. (veja abaixo):
Segundo o economista, na última reunião do Copom, que aconteceu em 3 de maio, a taxa de juros reais estava em 8,14%. “O Banco Central segue ampliando o aperto monetário, sem que a maioria perceba”, diz.
Isso acontece porque quando o BC decide manter a taxa Selic estável enquanto a inflação oficial do país recua, o efeito de aperto monetário acaba sendo o mesmo.
Lembrando que a reunião de maio marcou o sexto encontro consecutivo do colegiado em que a Selic foi mantida nos atuais 13,75% ao ano.
Ainda de acordo com Rytenband, a inflação implícita (diferença entre a taxa de juros prefixada (nominal) e a taxa de juros indexada ao IPCA (real)), renovou a mínima do ano, atingindo 3,65%. (veja abaixo):
Selic deve cair quando?
Para especialistas, a desaceleração da inflação deve fazer com que os juros comecem a cair, mas a maioria do mercado acredita que o BC não deverá iniciar a redução na próxima reunião, que acontece na semana que vem. A principal aposta é que os juros comecem a cair apenas em agosto.
“Os juros estão altos sim, mas deverão ser mantidos por mais uma reunião do Copom”, disse ao Money Crunch o CEO da Box Asset, Fabricio Gonçalves.
Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos, também acha que os juros devem cair, mas não “crava” uma data.
“A gente já vem há bastante tempo neste patamar de 13,75% de taxa de juros e mês após mês há uma melhora qualitativa nos números de inflação. Isso abre espaço para que o processo de queda de juros aconteça nos próximos meses”, afirma.
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, concorda que os dados de inflação divulgados hoje devem ajudar na decisão do BC. “Isso abre cada vez mais espaço para a redução de juros”.
Enquanto o BC não diminui a Selic de fato, o próprio mercado já vem fazendo a precificação dos juros na curva, como aponta Darwin Dib, economista da Gauss Capital.
“O resultado de hoje corrobora a recente tendência dos índices de inflação surpreenderem para baixo as expectativas do mercado, abrindo caminho para uma nova rodada de redução das taxas de juro de mercado, em especial para prazos mais longos”, afirma.
“O mercado já está começando a antecipar a desaceleração da inflação e consequentemente a queda na Selic, já possivelmente na primeira reunião do segundo semestre”, concorda a Sócia fundadora da Semeare Investimentos, Marcela Kasparian.