Caro leitor(a), você já imaginou fazer seu capital aumentar 100% em apenas uma hora graças a um meme de Internet? Pois saiba que isso aconteceu na semana passada, graças a uma mania que tomou conta do mercado de criptomoedas desde o dia 18 de abril.
Nesta data, surgiu no mercado de criptomoedas um token que viria a se tornar o maior hype do momento poucas semanas depois: o Pepecoin (PEPE). Sua ascensão meteórica levou o então desconhecido a atingir mais de US$1 bilhão em poucos dias, com alta de 1.200% e um lugar garantido entre as maiores criptomoedas do mundo (ele ocupa a 57º posição atualmente).
No entanto, esses números expressivos escondem uma verdade preocupante: o PEPE é uma aposta. Uma aposta de altíssimo risco, que simplesmente pode trazer ao investidor aquilo que o fundador da Convex Research, Richard Rytenband, sempre fala para evitar: o risco da ruína.
Por isso, o texto de hoje vai trazer mais detalhes sobre o PEPE, a mania das “criptomoedas-meme” e, acima de tudo, como se proteger da euforia desse mercado.
Memes na blockchain
As criptomoedas-meme são uma categoria particular dentro do mercado de criptomoedas. Elas não possuem nenhuma utilidade prática (como o Bitcoin), nem possibilitam a criação de outras aplicações (como o Ethereum). Seu único objetivo é representar algum meme ou piada famosa dentro de uma blockchain.
Nesta categoria, a mais famosa é a Dogecoin (DOGE), inspirada no famoso meme do cachorro da raça Shiba Inu. Lançada em 2013, a DOGE ganhou fama especialmente a partir de 2021, graças aos tuítes do bilionário Elon Musk dando seu “apoio” para a criptomoeda.
A cada mensagem de Musk, os seus seguidores partiam para comprar DOGE e, como resultado, a criptomoeda disparava 10%, 20%, até 50% em poucas horas.
Essas compras, no entanto, não tinham qualquer objetivo de ganho financeiro a princípio, mas eram feitas como piada. Aos poucos, a DOGE virou uma “comunidade” de criadores de memes e pessoas que compravam a criptomoedas mais como um suvenir.
Só que esse movimento naturalmente elevou o preço da DOGE, que hoje possui mais de US$ 10 bilhões em valor de mercado. Para se ter uma ideia, em dezembro de 2020 a DOGE não valia sequer US$ 0,01, mas apenas cinco meses depois, a criptomoeda já valia US$ 0,65 – esta foi sua máxima histórica.
Com o sucesso da DOGE, outras criptomoedas-meme também surgiram, a maioria delas inspiradas em cachorros. São o caso das seguintes criptomoedas:
- Shiba Inu (SHIB);
- Floki Inu (FLOKI);
- Baby Doge Coin (BABYDOGE);
Expansão
Mas o fenômeno das criptomedas-meme não ficou restrito aos canis ou casinhas de cachorro. Da noite para o dia, qualquer tipo de fenômeno que viralizasse na Internet poderia gerar uma criptomoedas para lucrar com essa piada.
Dois exemplos ilustram esse frenesi quase que insano. Em 2022, quando surgiram boatos de que Elon Musk estava interessado em comprar o Twitter, alguém criou uma criptomoeda chamada “Elon Buys Twitter”, e essa criptomoeda chegou a disparar mais de 300%.
Além disso, em abril do ano passado surgiu a criptomoeda “Will Smith Inu”, criada em “homenagem” ao tapa que o ator Will Smith deu no apresentador do Oscar, Chris Rock, ao receber o prêmio de Melhor Ator. Sim, a criptomoeda não tinha qualquer utilidade prática além de fazer piada com esse fato que viralizou.
E o mais novo exemplo desse fenômeno é a PEPE.
O sapo de R$ 1 bilhão
O meme Pepe The Frog é desenhado como um sapo antropomórfico verde com um corpo humanoide, e surgiu em 2005 numa história em quadrinhos publicada nos Estados Unidos como Boy’s Club, pelo estúdio Furie.
A partir daí, o personagem se tornou um meme da Internet quando sua popularidade cresceu constantemente em sites como Myspace, Gaia Online e 4chan em 2008. Mas nos anos 2020, o sapo ganhou uma nova roupagem através da blockchain.
O token PEPE e sua rede não possuem conexão com a Furie ou com o meme original, mas utilizam a imagem deste. Existem 420 milhões de tokens em circulação, número que soa como referência ao termo “4/20” utilizado entre consumidores de cannabis.
Desde que surgiu, o PEPE causou um completo rebuliço e se valorizou mais de 1.200%. Como resultado, o token chegou a impressionante marca de US$ 1 bilhão em valor de mercado (hoje está em US$ 850 milhões).
Notavelmente, as pessoas começaram a comprar o token em grandes quantidades, à medida que grandes exchanges começaram a negociá-lo.
De fato, um usuário chegou a vender mais de US$ 950 mil em criptomoedas e apostar tudo em PEPE. A aposta lhe rendeu um total de US$ 2,19 milhões, um lucro superior a US$ 1,2 milhão (R$ 6 milhões). Tudo isso em menos de uma hora operando a PEPE no mercado.
Risco enorme
A esta altura, certamente você deve estar pensando duas coisas: “vou trocar tudo que tenho por PEPE, ficar rico e ir morar no Caribe”. Ou então “estão todos loucos, onde já se viu toda essa euforia por algo que não serve para nada?!”
Se você está no primeiro grupo, lamento dizer, mas o seu risco de ruína é extremamente elevado. Isso porque, como disse o sujeito do segundo grupo, a PEPE não tem qualquer utilidade; ela é simplesmente um meme de Internet transformado em uma criptomoeda.
Além disso, o histórico das criptomoedas-meme mostra que há um perigo extremo em comprá-las durante um ciclo de euforia. O caso da própria DOGE é um exemplo: a criptomoeda atingiu sua máxima de US$ 0,65 em 5 de maio de 2021. Mas hoje, pouco mais de um ano depois, uma DOGE vale apenas US$ 0,07.
Ou seja, quem comprou DOGE no auge acumula um prejuízo de 89,23% – praticamente uma ruína total. Com mais um detalhe: o preço da DOGE se mantém entre US$ 0,05 e US$ 0,10 desde junho de 2022, sem nenhum indício de que vai recuperar suas máximas.
Por isso, criptomoedas-meme são uma piada, no máximo uma aposta extremamente arriscada e com alto risco de dar errado. Apesar das histórias como a dos “R$ 6 milhões em uma hora”, elas são uma exceção – a regra desse setor é a quebra total.
Em suma, jamais arrisque todo o seu patrimônio com uma aposta. Para investir em criptomoedas com segurança, escolha aqueles projetos mais sólidos, que possuem real utilidade e grande potencial de valorização no longo prazo. Em criptomoedas, o tempo é seu maior aliado e a pressa, um inimigo cruel.