O presidente Lula voltou a fazer ataques à autonomia do Banco Central (BC), um dia depois do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) ter decidido manter a taxa de juros em 13,75% ao ano.
Lula afirmou que a medida “não tem explicação nenhuma” e disse que Roberto Campos Neto, presidente do BC, deveria apenas “cumprir a lei”. “Quem tem que cuidar do Campos Neto é o Senado que o indicou. Ele não foi eleito pelo povo. Não foi indicado pelo presidente. Foi indicado pelo Senado”, disse
A fala foi entendida como uma “pressão” para que o Senado tome alguma medida em relação ao presidente do Banco Central. Mas Campos Neto pode ser “demitido” ou forçado a deixar o cargo? O economista e CEO da Convex Research, Richard Rytenband, explica.
“Sim, a lei de autonomia prevê essa possibilidade, com uma justificativa de desempenho insuficiente e aprovação da demissão por pelo menos 41 votos no Senado Federal (maioria absoluta)”, afirma.
Rytenband aponta que a “brecha” para justificar o desempenho insuficiente seria a violação por dois anos consecutivos do teto da meta da inflação, fato que já ocorreu em 2021 e 2022
“Portanto, o possível motivo já está materializado, restariam os tais 41 votos no Senado”, aponta.
Mercado financeiro rechaça falas de Lula
As falas de Lula são duramente criticadas no mercado financeiro. No mês passado, diversos gestores de fundos e economistas se manifestaram contra as falas do presidente e de integrantes do governo sobre temas de responsabilidade do BC e outros órgãos técnicos.
“Os constantes questionamentos sobre a meta de inflação e ataques à independência do Banco Central mantém os prêmios de risco, especialmente na curva de juros, bastante altos, e afetam diretamente o valuation das ações […] Mantemos a visão que expressamos em nossa última carta: existe muito ruído (mas também algum sinal) nessas declarações dos políticos”, afirmou a Verde Asset, em arta divulgada aos cotistas em fevereiro.