De acordo com o relatório “The Global Wage Report 2022-2023”, publicado nesta quarta-feira (30) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), o cenário de pressão inflacionária e de desaceleração do crescimento econômico levaram a uma queda dos salários ao redor do mundo, em termos reais, de 0,9% no primeiro semestre.
Este foi a primeira vez desde 2008 – que marca a primeira publicação do estudo do tema pela organização – em que o desempenho global dos salários foi negativo. O levantamento constatou que os impactos da pandemia de Covid-19, da Guerra da Ucrânia e da crise de energia que afeta diversos países.
Entre os países avançados do G20, estima-se que os salários reais (já descontada da inflação) tenham caído pelo menos 2,2% no primeiro semestre, enquanto os salários reais nos países emergentes do grupo cresceram 0,8% – 2,6% a menos do que em 2019.
Cenário Brasil
Segundo os dados da OIT, o Brasil registrou queda de 4,1%, no primeiro trimestre deste ano, de 7% em 2021 e de 4,9% em 2020 – sempre na comparação com 2019. Do primeiro trimestre de 2019 ao primeiro trimestre de 2022, a queda no Brasil foi de 16%.
Para os dados referentes ao Brasil, o relatório usou os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua.
O aumento real do salário mínimo é uma das promessas de campanha do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O documento também apontou que o Brasil já havia registrado uma queda de 4,9% na massa salarial, de 2019 a 2020, a 15ª maior entre 28 países.
O número de empregados sem carteira no setor privado bateu recorde, de 13,4 milhões, alta de 2,3% ante julho. Mesmo com o aumento da informalidade, a renda real vem melhorando ao longo dos meses, aponta o IBGE, alcançando R$ 2.754 até outubro.
A OIT mostrou que o aumento da inflação teve um impacto mais relevante no custo de vida das famílias de menor renda, já que elas gastam a maior parte da renda disponível em itens essenciais, como alimentação e moradia, que costumam sofrer mais variações de preço.
Além disso, também alerta para a corrosão progressiva que a inflação tem provocado nos valores reais dos salários, mesmo em países onde os salários tiveram reajustes nominais.
“As múltiplas crises globais que estamos enfrentando levaram a um declínio nos salários reais. Isso colocou milhões de trabalhadores em uma situação terrível, pois enfrentam incertezas crescentes. A desigualdade de renda e a pobreza vão aumentar, caso o poder de compra dos salários mais baixos não seja mantido. Além disso, a tão necessária recuperação pós-pandemia pode ser colocada em risco. Isso pode alimentar ainda mais a convulsão social em todo o mundo.”, disse Gilbert Houngbo, diretor-geral da OIT.
Como caminhos para solucionar o problema, a organização aponta que o reajuste real de salário mínimo pode ser uma ferramenta eficaz, uma vez que 9 entre 10 países membros da OIT contam com sistemas de salário mínimo.
Um forte diálogo social tripartite e a negociação coletiva também podem contribuir para alcançar ajustes salariais adequados durante uma crise.
diz um trecho do relatório
Na visão de Rosália Vazquez-Alvarez, uma das autoras do relatório: “Combater a deterioração dos salários reais pode contribuir para sustentar o crescimento econômico que, por sua vez, pode ajudar a recuperar os níveis de emprego registrados antes da pandemia”.
Portanto, economistas não descartam que alguns países, como os da América Latina, continuem a ver uma redução real dos salários nos próximos anos, em consequência dos efeitos globais sobre a inflação.
A OIT afirma que para evitar o aprofundamento dos níveis de pobreza e desigualdade, é necessário adotar medidas políticas bem projetadas com urgência.
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