*Artigo traduzido de ZeroHedge
À medida em que o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) apertou a política monetária do país no ritmo mais agressivo dos últimos 40 anos, as taxas reais nos Estados Unidos dispararam e voltaram com força ao território positivo.
Em momentos anteriores da história, esse tipo de movimento reduziu fortemente a demanda por ouro. No entanto, como o gráfico abaixo mostra, desta vez o preço do metal não caiu tanto quanto alguns poderiam esperar – embora esteja longe de suas máximas.
Dentro deste contexto, um fato importante foi verificado pelos analistas: os bancos centrais ao redor do mundo compraram 399 toneladas de barras no terceiro trimestre deste ano, quase o dobro do recorde anterior, de acordo com o World Gold Council (figura abaixo).
O aspecto complicado recai, como relata a Bloomberg, no fato de que pouco menos de um quarto foi adquirido por instituições identificadas publicamente, alimentando especulações sobre quem eram os compradores misteriosos que ficaram com as outras 300 toneladas de ouro.
Enquanto a maioria dos bancos centrais informa ao Fundo Monetário Internacional quando compra ouro para complementar seus cofres cambiais, existem alguns países que são bem mais sigilosos.
Aqui estão algumas possibilidades de quem esses misteriosos compradores poderiam ser:
China
A segunda maior economia do mundo raramente divulga quanto de ouro seu banco central está comprando. Em 2015, o Banco Popular da China revelou um salto de quase 600 toneladas em suas reservas de ouro, chocando os observadores do mercado após seis anos de silêncio.
O país não relatou nenhuma mudança em seu tesouro de ouro desde 2019, alimentando especulações de que pode estar comprando sob o radar.
Dados comerciais mostram que o país vem recebendo grandes quantidades de ouro. A China importou 902 toneladas de ouro até o momento, superando o total do ano passado. Isso se soma as mais de 300 toneladas que as minas do país normalmente produzem a cada ano.
E embora a demanda doméstica tenha sido forte, com os cidadãos comprando cerca de 601 toneladas até o terceiro trimestre, está a caminho de ficar aquém dos níveis de 2021. No início do ano, os bloqueios da pandemia de Covid-19 dificultaram as compras de joias e barras de ouro em um dos principais consumidores do mundo.
Para a China, a necessidade de encontrar uma alternativa ao dólar, que domina suas reservas, raramente foi tão forte. As tensões com os Estados Unidos são altas após as medidas tomadas contra suas empresas de semicondutores, enquanto a invasão da Ucrânia pela Rússia demonstrou a disposição de Washington de sancionar as reservas do banco central.
Rússia
A Rússia é a segunda maior nação mineradora de ouro do mundo, normalmente produzindo mais de 300 toneladas por ano. Antes de fevereiro de 2022, exportava metal para centros comerciais como Londres e Nova York, mas também para nações da Ásia.
Desde a invasão da Ucrânia, o ouro da Rússia não é mais bem-vindo no Ocidente, enquanto a China e a Índia relutam em importar grandes quantidades. Isso levanta a possibilidade de o banco central intervir para comprar esses suprimentos, mas as reservas globais de moeda estrangeira da Rússia, incluindo o ouro, caíram este ano.
As reservas de dólares e euros da Rússia foram congeladas por sanções, tornando menos atraente para o banco central adicioná-las. Além disso, a Rússia não divulga suas participações em ouro separadamente.
O país foi um grande comprador de ouro no passado, com seis anos acumulando barras antes de parar no início da pandemia. A Rússia disse em fevereiro, após a invasão da Ucrânia, que estava pronta para comprar ouro a um determinado preço, mas o vice-governador,Alexei Zabotkin, disse no mês passado que as compras não eram mais práticas, pois aumentariam a oferta de dinheiro e a inflação.
Exportadores de petróleo
Poucas nações se saíram melhor da crise energética deste ano do que os exportadores de petróleo do Golfo. Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Kuwait colheram frutos inesperados, e alguns estão investindo dinheiro em ativos estrangeiros por meio de fundos soberanos.
Eles podem ter procurado o ouro para diversificar. A Arábia Saudita tem o maior tesouro de ouro do mundo árabe, mas não relata uma mudança em suas participações desde 2010.
Naquela época, uma “diferença de contabilidade” fez com que suas reservas dobrassem para 323 toneladas.
Índia
O banco central da Índia já fez grandes compras de ouro antes, comprando 200 toneladas do Fundo Monetário Internacional em 2009. Desde então, ele tende a comprar mais gradualmente, enquanto fornece atualizações oportunas ao mercado.
O Banco Central da Índia pode ter evitado investir em ouro este ano, dada a pressão sobre sua moeda. Isso foi exacerbado pelas fortes importações de metais preciosos para seu setor de consumo nos últimos meses.
No final das contas, a pergunta que fica é: será que essas “baleias misteriosas” que estão comprando ouro sabem (ou temem) algo que as nações ocidentais preferem não considerar?
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