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100 dias do governo Lula: especialistas avaliam as primeiras ações na economia e política fiscal

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) completa nesta segunda-feira (10) 100 dias corridos. Desde o dia 1º de janeiro de 2023, quando Lula tomou posse da Presidência da República pela terceira vez, o Ibovespa registrou queda de 8,12%, chegando a perder e a recuperar os 100 mil pontos.

Na última sessão de quinta-feira (6), o índice formado pelas ações com maior volume negociado nos últimos meses na Bolsa de Valores brasileira (B3) fechou a 100.822 pontos, enquanto o dólar cai cerca de 4%, na casa dos R$ 5,05.

Nesta reportagem, o Money Crunch conversou com especialistas para responder as seguintes perguntas: qual é o saldo dos 100 dias do terceiro mandato presidencial de Lula e o que esperar nos próximos meses?

Bruce Barbosa, sócio fundador da Nord Research, Mariane Vas, coordenadora da área de Research do Gorila, e Felipe Salles, economista chefe do C6 Bank.

Bruce Barbosa, sócio fundador da Nord Research, destacou que a política econômica adotada pelo governo de Lula atualmente é a mesma que foi utilizada no segundo mandato de Lula e durante toda a gestão de Dilma Rousseff, que é de “aumento forte de gastos com mais arrecadação”.

Na visão de Mariane Vas, coordenadora da área de Research do Gorila, apesar do projeto do novo arcabouço ter colocado um limite para expansão dos gastos, “esse limite é amplo o suficiente pra que a política fiscal continue expansionista. Ao menos que ocorra um aumento significativo da carga tributária”, pontua.

A nova regra fiscal

O novo arcabouço fiscal, que substituirá o teto de gastos, criado em 2016 pela equipe econômica do governo de Michel Temer, foi apresentado em 30 de março pelo Ministro Fazenda, Fernando Haddad.

Conforme relembra Mariane Vas, coordenadora da área de Research do Gorila, o novo arcabouço combina uma regra de crescimento de gastos atrelado ao crescimento da nova receita líquida, e tem uma banda de metas de estado primário.

“A nova regra estabelece um teto pra taxa de oferecimento real das despesas, que varia de 0,6% a 2,5%, em vez dos 10%, como era no teto. E o governo também perseguirá uma trajetória de resultado fiscal primário que chega em 1% de superávit ao final do governo Lula”.

A recepção do mercado à nova regra não foi totalmente positiva, pois o novo arcabouço “estabelece metas ambiciosas de resultado primário, mas ainda insuficientes para impedir o crescimento da dívida no longo prazo”, afirmou Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, ao Money Crunch.

A análise principal dos economistas e analistas do mercado foi de que para o plano se concretizar, será preciso um aumento significativo na arrecadação, o que geraria maior pressão da carga tributária sobre a população.

“Se eles forem por esse caminho, o governo gasta muito e gasta mal, então provavelmente a gente vai ter inflação alta, juros altos e economia no buraco durante todo o governo, porque o Brasil já é um país que paga muito imposto em relação a outros emergentes”, declarou Bruce Barbosa.

Ele também considera que há chance de que o arcabouço não seja aprovado pelo Congresso, já que o governo não tem uma base ampla na casa para conseguir aprovar o que eles querem.

Ataques ao Banco Central

Desde o início de seu governo, Lula vem realizando ataques diretos ao Banco Central, principalmente ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto.

Os ataques do presidente da República giram em torno do alto patamar da taxa de juros, e também de uma possível mudança na meta de inflação.

“O governo batendo no Banco Central não faz nenhum sentido. O Banco Central é técnico, ele está olhando a inflação corrente e a inflação futura, e tomando decisão sobre as taxas de juros. O BC quer justamente diminuir o crescimento econômico para a inflação cair, esse é o esse é o trabalho deles. Parece que o governo também não entendeu isso”, explicou Barbosa.

No referente ao debate sobre mudanças na meta de inflação, os especialistas ressaltam que alterações poderiam até mesmo gerar o efeito que o governo não deseja, que é o de aumento da taxa básica de juros, justamente por ocorrer uma desancoragem das expectativas do mercado quanto à inflação.

“As discussões sobre a possibilidade de elevação da meta têm trazido ruído e podem estar influenciando a alta nas expectativas de inflação. Na nossa avaliação, seria importante acabar logo com as incertezas relacionadas à meta. A ausência de uma meta clara torna mais difícil ancorar as expectativas”, afirmou Felipe Salles, do C6 Bank.

Redução dos juros do crédito consignado

No mês passado, o Conselho Nacional de Previdência da Social (CNPS), impôs um teto para o juro do crédito consignado pra beneficiários do INSS, que passaria de 2,14% para 1,70% ao mês. Essa decisão fez com que houvesse uma paralisação da fonte de crédito, ou seja, bancos públicos e privados pararam de emprestar.

Por conta da consequência negativa, o CNPS anunciou uma nova mudança: o aumento do limite da taxa de juros de crédito pra 1,97% ao mês. Após essa nova decisão, os bancos retomaram a linha de crédito.

Segundo os especialistas, por mais que a situação tenha aparentemente se normalizado, a impressão que ficou foi fortemente negativa.

Principais saldos e expectativas

Após esses 100 dias de governo, Bruce Barbosa considera o saldo inicial do terceiro mandato de Lula “ruim”.

“O governo assumiu e ele não derrapou rápido na curva, ele derrapou devagar na reta. Eles assumiram o governo com a faca e o queijo na mão: o próprio mercado já precificava uma queda de juros ainda esse ano e eles conseguiram tornar essa queda de juros menos provável. Por aumentar muito os gastos, destruindo alguns setores, como o setor de Petróleo, por colocarem uma taxação em importação de petróleo, coisa que só país quebrado faz, países sérios não taxam importações por justamente quererem que seus países sejam competitivos com o exterior”.

Barbosa considera que o mercado ainda está se apresentando como otimista demais.

“Dificilmente vamos ver os juros caindo e, se cair, a economia está pior do que o esperado. Os mercados já estão refletindo isso em grande parte. E não vemos uma mudança de postura do governo, uma mudança nas ideias. Há uma repetição do que já foi feito”.

O aumento do Estado reflete uma aproximação do governo do que Mariane Vas, coordenadora da área de Research do Gorila, nomeia de “política expansionista”.

“Aumentar impostos e aumentar o tamanho do estado não é bom, já vimos que isso não funciona, ainda mais com a dívida pública na altura que está. Sabemos que quanto maior o estado no Brasil, a economia vai pior, porque o estado é improdutivo”, finalizou Bruce Barbosa.

Entre em contato com a redação Money Crunch: [email protected]

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